Filipe Diniz
A luta dos trabalhadores e dos povos contra a implacável ofensiva capitalista actualmente em curso exige uma muito vigorosa resistência ideológica.
E há que ter em conta não apenas o ataque que vem abertamente do campo do inimigo de classe. Há que ter em conta igualmente as palavras de alguns que, proclamando estar ao lado dos trabalhadores e ser até «marxistas», têm a surpreendente habilidade tanto de desfocar as frentes de combate como de desvalorizar os nós essenciais - realmente existentes – de luta e de organização.
Veja-se uma recente crónica (Visão, 2.06.2010) de Boaventura Sousa Santos. Este «marxista» faz a extraordinária descoberta de que «a luta de classes está de volta à Europa». A luta de classes «enquanto prática política (sic)» está de volta, imagine-se, depois de anos em que esteve «institucionalizada» sob a forma de concertação social. Cujos resultados foram, entre outros, «o modelo social europeu», a «paz social», os «baixos níveis de desigualdade social». E regressa «em termos tão novos que os actores sociais estão perplexos e paralisados».
BSS publica este texto cinco dias depois daquela que provavelmente terá sido a maior manifestação realizada em Portugal desde 1974. Mais de 300 mil trabalhadores «perplexos e paralisados», convocados por sindicatos «em crise».
Felizmente têm em BSS uma luz que os alumia e lhes explica que a luta de classes regressou sob «uma nova forma: [….] desta vez é o capital financeiro quem declara guerra ao trabalho» (para BSS, o capital financeiro é uma classe…).
O movimento de luta que se levanta por toda a Europa, com a magnífica expressão de massas que tem vindo a alcançar, deveria deter-se e ouvir o sábio conselho de BSS: este movimento será «bem frágil se não for partilhado [….] em pé de igualdade por movimentos de mulheres, ambientalistas, de consumidores, de direitos humanos, de imigrantes, contra o racismo, a xenofobia e a homofobia». E, sobretudo, não ter ilusões: «a resistência ou é europeia ou não existe», decreta BSS.
Mal estariam os trabalhadores portugueses, gregos, romenos, espanhóis, se alimentassem expectativas em tais conselhos amigos.
Cresce um grande movimento de massas, patriótico e internacionalista. Não exclui ninguém.
Mas, francamente, não precisa de conselhos destes.
http://www.avante.pt/noticia.asp?id=33898&area=25
À procura de textos e pretextos, e dos seus contextos.
09/06/2010
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