Encerramento nocturno de Pediatrias preocupa Margem Sul

A presidente da Câmara de Setúbal aponta ao Ministério da Saúde incompetência e irresponsabilidade na decisão de encerrar a urgência pediátrica do Centro Hospitalar de Setúbal durante o período nocturno. Temendo que a medida se torne definitiva, Maria das Dores Meira acusa a ARS de ter ignorado um problema que conhecia há dois meses. A Câmara do Barreiro lembra que "a Pediatria Médica é uma urgência obrigatória".

De acordo com decisão do Ministério da Saúde, entre 15 de Junho e 15 de Setembro as unidades hospitalares de Setúbal e do Barreiro vão deixar de ter urgências pediátricas durante a noite. O serviço será nesse período garantido pelo Hospital Garcia de Orta.

A Administração Regional de Saúde diz que a decisão foi tomada devido à escassa procura durante a noite e garante transporte disponível para as crianças e bebés que precisarem de ser deslocadas ao Garcia de Orta, "a cerca de 40 quilómetros de Setúbal e do Barreiro".

Muito apreensiva com o encerramento das urgências pediátricas durante o período nocturno nos próximos meses, a presidente da Câmara de Setúbal lamenta a decisão e diz que "só por desconhecimento da realidade das áreas servidas pelo Hospital de São Bernardo" se pode afirmar que concelhos como Alcácer do Sal, Grândola, Santiago ou Sines estão a 40 quilómetros do Hospital Garcia de Orta.

"Por um segundo podemos perder uma vida", sublinhou Maria das Dores Meira num encontro com jornalistas, para defender que "os setubalenses e as populações servidas pelo hospital merecem mais respeito e não podem continuar a ter os seus serviços de Saúde geridos de forma tão incompetente e pouco séria".

Nesse sentido, a autarca "destaca a total insensibilidade e irresponsabilidade do Ministério da Saúde perante as necessidades de serviços de saúde qualificados de uma população de mais de 200 mil pessoas".

A presidente da Câmara de Setúbal explicou ainda que estão em causa 13 concelhos, uma vez que no período nocturno encerra também o serviço de urgência do Centro Hospitalar Barreiro/Montijo.

Indicando que "a Câmara de Setúbal discorda em absoluto da 'operacionalização' promovida pela ARSLVT (Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo)", Maria das Dores fez saber durante a conferência de imprensa vai exigir ao Ministério da Saúde que anule de imediato a medida "e aplique correcções necessárias para que não se repitam estas situações".

Dedo apontado a ARS

E não é apenas o Ministério da Saúde o alvo das acusações de Maria das Dores Meira. A ARSLVT não escapa às acusações da autarca, que garante que a Administração Regional de Saúde tinha conhecimento da falta de médicos em número suficiente para cobrirem a urgência pediátrica desde Abril, nada tendo feito nestes dois meses para corrigir a situação.

"A falta de médicos, para usar um termo clínico, está diagnosticada desde Abril, quando a administração do Centro Hospitalar de Setúbal informou a Administração Regional de Saúde de que corria o risco de, nos meses de Verão, o número de clínicos disponíveis não ser suficiente para assegurar o funcionamento das urgências pediátricas", indicou a autarca do PCP.

"Dos 12 pediatras, seis tem mais de 50 anos e têm o direito de não fazer serviço nocturno, e quem tem mais 55 anos também tem direito de não fazer urgência. Dos seis, três pediatras estão em licença de maternidade. Uma entra ao serviço já no próximo mês, mas mesmo quatro são insuficientes para fazerem o período de verão", esclareceu Maria das Dores.

Quando "se sabia do problema há dois meses", por que não foram procuradas soluções, questionou a autarca, que conta já com o apoio da Câmara do Barreiro, que esta tarde emitiu um comunicado a manifestar "profundo desacordo" com o encerramento da urgência pediátrica dos Centros Hospitalares Barreiro/Montijo e de Setúbal.

"Foi com surpresa, apreensão e total desacordo que o município do Barreiro tomou conhecimento, através da comunicação social, da intenção do Ministério da Saúde, de encerrar, no período da noite, das 00H00 às 9H00, entre 15 de Junho e 15 de Setembro, a urgência pediátrica dos Centros Hospitalares Barreiro/Montijo e de Setúbal, ficando a funcionar apenas no Hospital Garcia de Orta", pode ler-se na nota da autarquia liderada por Carlos Humberto.

Pediatria Médica é uma urgência obrigatória

"A saúde das populações não pode ser posta em causa por medidas desta gravidade", lamentou o autarca, sublinhando o profundo desacordo com esta decisão, prometendo exigir a reposição do normal funcionamento destas unidades.

De acordo com o comunicado da autarquia, a urgência do CH Barreiro/Montijo cobre os concelhos do Barreiro, Moita, Montijo e Alcochete, estando qualificada na rede de urgências nacionais como Urgência Médico-Cirúrgica.

"Nesta tipologia", é explicado no texto, "a Pediatria Médica é uma urgência obrigatória".

Carlos Humberto diz ainda não compreender a decisão, uma vez que numa reunião com a Direcção do Centro Hospitalar, no início da semana, "foi evidenciado o normal funcionamento da pediatria, mesmo em período de férias".

Pediatras contestam critérios de encerramento

Em declarações à Agência Lusa, alguns pediatras do Centro Hospitalar de Setúbal discordam do critério do número de crianças inscritas durante a noite para proceder ao encerramento das Urgências pediátricas.

"Pensamos que não se pode argumentar, como já ouvimos, que só há nove inscrições durante a noite, uma vez que há outras crianças que dão entrada no serviço de urgência antes da meia-noite e que algumas continuam a ser assistidas durante o período nocturno", explicou um pediatra do Hospital São Bernardo, alertando que este argumento poderá vir a ser utilizado para justificar um encerramento da urgência pediátrica no Inverno, época durante a qual o número de inscrições "nem sequer duplica".

Alguns pediatras sustentam ainda que apesar das "dificuldades em assegurar recursos humanos" para aqueles serviços é possível evitar o encerramento da urgência pediátrica durante os meses de Verão.

"Estávamos disponíveis para fazer um esforço acrescido e alguns médicos que não faziam noites até se mostraram disponíveis para as fazer durante os meses de verão", afirmou este pediatra, lamentando o facto de quando foram ouvidos pela Administração "a decisão já estar tomada".

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