Os trabalhadores da administração pública romenos cumpriram, no dia 31, uma greve contra as drásticas medidas de austeridade impostas pelo governo. Em muitos sectores foi declarada uma paralisação por tempo indeterminado.
Em resposta aos cortes de 25 por cento dos salários na função pública e de 15 por cento no subsídio de desemprego e pensões de reforma, os trabalhadores romenos iniciaram, dia 31, uma vaga de greves sem precedentes na história recente do país.
Enquanto isso, milhares de pensionistas concentravam-se frente ao parlamento, manifestando a sua indignação pela redução das suas miseráveis prestações, grande parte das quais inferiores a 100 euros.
No dia seguinte, os transportes públicos de Bucareste (metro, trólei e eléctricos, com excepção dos autocarros) juntaram-se à luta paralisando durante oito horas.
Mas se a generalidade dos serviços públicos esteve encerrada ou com funcionamento reduzido, tanto ao nível central como local, em vários sectores os protestos persistem com greves declaradas por tempo indeterminado, como é o caso dos professores, hospitais, polícias, serviços aduaneiros, transportes, entre muitos outros, onde não faltam, por exemplo, os actores dos teatros nacionais.
Trata-se sobretudo de greves parciais, que decorrem em moldes particulares resultantes da heterogeneidade do movimento sindical romeno, uma vez que variam consoante as regiões e os sindicatos que as promovem.
Em geral, os trabalhadores apresentam-se diariamente nos seus locais de trabalho, mas ou não cumprem as suas funções ou fazem-no apenas parcialmente. Por exemplo, os professores recusaram-se a vigiar e corrigir os exames finais do secundário, mas em alguns casos aceitaram prosseguir as aulas.
Os polícias e agentes aduaneiros asseguram um terço da actividade habitual, já os serviços penitenciários recusam transportar reclusos para os tribunais, reclamando para além do mais o pagamento de 200 mil horas suplementares prestadas e em dívida.
Também os hospitais estão paralisados indefinidamente, embora garantam 30 por cento do serviço, designadamente urgências e cuidados básicos. O país está igualmente sem ambulâncias na sequência da greve convocada que abrange cerca de 10 mil trabalhadores.
Um genocídio social
As draconianas medidas de austeridade decididas pelo governo de Emil Boc, do Partido Democrata Liberal, visam uma redução de 20 por cento da despesa pública global, de modo a fazer baixar o défice público para 6,8 por cento do PIB.
Neste sentido, as autoridades pretendem eliminar até 300 mil postos de trabalho nos serviços do Estado, que empregam um total de 1,4 milhões de pessoas. Note-se que já antes destas medidas, o desemprego atingiu 8,1 por cento em Janeiro, quase duplicando em relação ao mesmo mês do ano anterior (4,1%).
Num país em que metade da população ganha menos de 200 euros por mês e vive já hoje no limite da sobrevivência, os cortes na despesa pública são qualificados por muitos como um verdadeiro «genocídio social laranja», a cor do partido do primeiro-ministro Boc e do presidente Basescu.
O agravamento da situação social está de resto bem patente nas sondagens, que revelam um crescente repúdio do capitalismo e uma valorização do passado socialista. Recorde-se que, segundo um inquérito recente do Bureau of Social Research, 60 por cento dos romenos pensam que os políticos são hoje mais corruptos do que antes de 1989, sendo que 56 por cento não têm dúvidas de que vivem pior agora do que sob Ceausescu.
http://www.avante.pt/noticia.asp?id=33881&area=8
À procura de textos e pretextos, e dos seus contextos.
09/06/2010
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