À procura de textos e pretextos, e dos seus contextos.

24/11/2009

Pedidos de apoio à Cáritas já cresceram 50% este ano

Solicitações das famílias não páram de aumentar, alerta presidente da Cáritas. Verba não chega para todos

O número de pessoas que este ano pediu ajuda à Cáritas subiu 50%. Apesar de o tema da crise ter desaparecido da agenda mediática, alerta o presidente da Cáritas, as carências das famílias continuam a agravar-se. Quem bate à porta das dioceses, diz ainda Eugénio Fonseca, são na maioria desempregados com dívidas e numa situação social já muito difícil. Para apoiar estes novos casos, a Cáritas lança hoje uma nova campanha.

"Nos três primeiros meses do ano, registámos um aumento de 30%. E, desde então, há dioceses onde os pedidos já subiram mais 15 a 20%. Continuamos numa posição ascendente", afirmou ao DN o presidente da instituição a nível nacional, sublinhando que a gravidade do problema varia entre as cáritas diocesanas. Eugénio Fonseca saúda a medida do Governo de alargar por seis meses o período do subsídio de desemprego, mas lembra que muitas pessoas que ficaram agora sem trabalho nunca fizeram descontos e estão, assim, sem qualquer apoio social.

Em Setúbal, os atendimentos mensais feitos pela diocese triplicaram e levaram até ao reforço da equipa que faz a triagem dos processos. "Num mês normal, teríamos 16 pedidos", diz Clara Vilhena, responsável da Cáritas. Em Outubro, foram 47 e, ontem, a uma semana do final do mês, já tinham sido atendidas 42 pessoas. A verba não chega para responder na hora a todas as solicitações. Segundo a responsável desta Cáritas, há dois tipos de casos que aparecem: desempregados sem apoio social que pedem uma ajuda pontual para recuperar a vida profissional, e pessoas com dívidas de água, luz, gás ou de habitação. Aqui incluem-se famílias novas, mas também reformados que deixaram de conseguir viver apenas com o rendimento mensal.

Muitas pessoas deste segundo grupo são reencaminhadas para instituições locais para receberem apoio continuado, por exemplo, alimentar. "Nós fazemos o primeiro atendimento. Depois, as pessoas vão engrossar as listas de utentes das paróquias e instituições. Muitas passam também a receber rendimento social de inserção", explica Clara Vilhena, da diocese que abrange a península de Setúbal.

É para ajudar famílias sem direito a qualquer apoio que a Fundação Gulbenkian lançou, há cinco meses, o projecto País Solidário. A verba angariada é também distribuída pela Cruz Vermelha nas regiões mais carenciadas do País.

Em Setúbal, esta Cáritas já apoiou 200 situações. Margarida e João Paulo são um bom exemplo do que pode mudar com uma ajuda pontual. Estavam ambos sem emprego, com um filho de 14 anos para sustentar, quando a situação atingiu o limite. "Andávamos aos caixotes do Lidl. O dinheiro faltou-nos para a renda, água, luz", recorda Margarida, 53 anos, que tinha outras dívidas para pagar. Foram dias difíceis, desabafa. Emanuel, doente alérgico, dormia no chão e a refeição resumia-se a pão seco.

O casal da Charneca da Caparica foi bater à porta da Cáritas há um ano. Aí, além da situação de pobreza, expôs também a vontade de trabalhar e de levar pela frente um pequeno negócio de biscates de reparações domésticas, que já tinha sido iniciado mas apresentava dificuldades de expansão. João Paulo tem competências técnicas na área da electricidade, adquiridas no tempo em que trabalhava na empresa Tecnoporta mas, diz a mulher, "sabe fazer tudo".

O casal começou a publicitar os serviços nuns panfletos distribuídos na caixa dos correios e o trabalho foi começando a chegar. Mas a carrinha velha em que se deslocava já dava tantos problemas que tiveram de a encostar. "Começámos a recusar serviço. Dizíamos que tínhamos trabalho a mais. Ou então, íamos a pé ou pedíamos um carro emprestado", recorda Margarida, que apoia o marido na gestão do negócio.

No Verão, o empurrão ao negócio concretizou-se com a oferta de uma carrinha em segunda mão. Os biscates passaram a ser feitos mais longe, chegando até a Alhandra, e o trabalho mais regular. Ontem, ao fim do dia, Margarida e João Paulo estavam de saída para montar uma torneira e fazer uma instalação numa habitação.

D.N. - 24.11.09

Sem comentários:

Related Posts with Thumbnails