A realidade dos sem-abrigo em Lisboa está alterar-se, com o aumento de famílias na rua, alertou ontem Ana Corte, do Grupo Técnico da Rede Distrital de Lisboa. A responsável teme que a situação se agrave.
"Há um novo sem-abrigo, uma realidade diversa, como famílias na rua, que tende a aumentar e a agravar-se", afirmou à Lusa Ana Corte.
A responsável falava à margem de um debate realizado ontem em Lisboa para discutir e apresentar estratégias e percursos para a integração da pessoa sem-abrigo, onde foi apresentado o Plano Cidade para a Pessoa Sem-Abrigo.
Segundo a responsável, "combater esta nova realidade é o principal objectivo deste plano, o que não é possível sem a intervenção conjunta de todas as instituições".
"A intervenção tem de ser centrada na pessoa, pois não faz sentido serem criadas uma série de respostas e teorias, se a pessoa em causa não tiver um papel activo no seu próprio projecto", considera Ana Corte.
"Torna-se fundamental respeitar aquilo que o próprio sem-abrigo pensa que é o seu projecto de vida", afirmou.
A caracterização do sem-abrigo é "muito importante" e é um trabalho que deveria ser realizado, segundo a responsável, "desde o momento em que a pessoa se torna um sem-abrigo até ao momento que começa a ganhar alguma autonomia", pois "há ainda um percurso que é uma incógnita".
Ana Corte considera que há ainda um "estigma" na sociedade, a ideia de que "um sem-abrigo é idoso, sujo e sem perspectiva de vida", que é preciso combatê-lo.
"É necessário haver uma metodologia comum, um objectivo comum, um esforço de equipa e um trabalho em rede para obter resultados", pois "todos têm o mesmo objectivo que é ajudar os sem-abrigo, mas cada um tem o seu tipo de intervenção".
"É um desafio que não é fácil mas não impossível", concluiu.
A criação de residências de transição e de centros de emergência com uma estrutura de acolhimento e residências de transição com acompanhamento técnico para os sem-abrigo são algumas das medidas apresentadas na proposta do Plano Cidade para a Pessoa Sem-Abrigo.
A identificação de zonas de maior concentração de sem-abrigo para a localização de núcleos de apoio local e a formação de agentes, dirigentes e organizações são outras medidas apresentadas no plano consideradas "fundamentais".
De acordo com dados estatísticos de 2007, apresentados no debate, existiam nesse ano 1187 sem-abrigo na cidade de Lisboa, dos quais 83 % eram do sexo masculino, dados recolhidos pelas equipas de rua, que não incluem os dos centros de alojamento e pensões.
J.N. - 19.06.09
Sem comentários:
Enviar um comentário