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18/06/2009

Descontentamento em França: Verão de luta

A quinta jornada nacional de luta, desde Janeiro, organizada pelas oito centrais sindicais francesas trouxe às ruas, no sábado, 13, mais de 150 mil pessoas em 159 desfiles e concentrações em todo o país.

Apesar de a participação ter ficado muito abaixo das expectativas dos próprios organizadores, sobretudo quando comparada com as acções anteriores que mobilizaram milhões de franceses, o protesto de sábado voltou a evidenciar um profundo descontentamento com a política económica e social do governo do presidente Sarkozy.
Uma semana após as eleições europeias, em que a direita do partido UMP gritou vitória, as manifestações realizadas em toda a França vieram lembrar a gravidade da situação económica, o disparo do desemprego e a ausência de medidas capazes de pôr um travão à crise e devolver a esperança a milhões de famílias.
Para o secretário-geral da CGT, Bernard Thibault, a participação relativamente reduzida foi em parte consequência do silenciamento da jornada nos órgãos de comunicação, ao contrário das anteriores amplamente publicitadas. Mas também, segundo afirmou, divergências no seio da frente sindical que vieram a público nas vésperas da acção poderão ter contribuído para dificultar a mobilização.
Thibault referiu-se às declarações «radicais» do dirigente da FO (Força Operária) que questionou a utilidade das sucessivas manifestações, defendendo a realização de uma greve nacional de 24 horas.
Presente no desfile de Paris, que juntou mais de 30 mil pessoas, o dirigente da FO, Jean-Claude Mailly, voltou a identificar um «fenómeno de desgaste», insistindo na necessidade de convocar uma greve geral, única forma de obrigar o governo a ceder.
As direcções sindicais podem discordar entre si das formas mais adequadas, mas ninguém duvida de que a luta irá continuar e intensificar-se à medida que se acentuam os efeitos da crise. A prova é que já está marcada uma nova jornada de manifestações para inícios do próximo mês.

Sinais e razões

E se sinais do descontentamento popular não faltam, as razões são cada vez mais fundas. A começar pela degradação sem precedentes do desemprego. Segundo dados divulgados, no dia 11, pela estatística francesa (Insee), só no primeiro trimestre de 2009 foram destruídos 187 800 postos de trabalho, mais do que durante todo o ano de 2008. E é o próprio instituto que o afirma: trata-se de um agravamento de amplitude inédita na história económica da França.
As consequências de uma tão importante redução da actividade económica já se fazem sentir no sistema de segurança social. De acordo com um relatório apresentado na segunda-feira, 15, calcula-se que o défice global atinja até final do ano entre 20,1 e 21 mil milhões de euros. A causa de tamanho buraco orçamental reside «fundamentalmente, na queda da massa salarial. Estamos com uma massa salarial negativa, o que aconteceu muito raramente», declarou Pierre-Yves Chanu, responsável pela protecção social na CGT (AFP, 15.06).
Neste contexto não surpreende que uma sondagem BVA-Les Échos, realizada na semana passada, tenha revelado que 74 por cento dos franceses consideram justificada a jornada de dia 13. O mesmo estudo indica, por outro lado, que uma clara maioria de seis em cada dez franceses considera «má» a política económica da equipa Sarkozy-Fillon.
Como observa o instituto de sondagens, esta opinião da maioria dos franceses é registada desde há mais de quatro meses, mas esta tendência em vez de se inverter, como poderia sugerir a «vitória» eleitoral da direita nas europeias, pelo contrário, acentuou-se, com a impopularidade do governo a aumentar de 59 para 61 por cento já no período de rescaldo eleitoral.
Avante - 18.06.09

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