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28/11/2010

Mundiclasse ameaçada com pedido de insolvência

O sector das agências de viagens ainda está a recuperar do caso Marsans, mas já há uma nova empresa a causar preocupação. A Mundiclasse, um dos maiores operadores nacionais, com uma rede de 28 balcões, está em risco de insolvência.

O sindicato garante que os trabalhadores não receberam os salários de Outubro. E a salvaguarda dos clientes resume-se a duas cauções de 25 mil euros (o mínimo legal), embora o grupo facture 24 milhões.

Apesar de ainda não haver registo de incumprimentos para com os clientes, como aconteceu com a Marsans, há muitas semelhanças entre os dois casos. O pedido de insolvência da Mundiclasse, que entrou no Tribunal do Comércio de Lisboa na passada quarta-feira, foi movido pelo mesmo fornecedor que suscitou a liquidação da empresa espanhola: o operador turístico Entremares.

Tal como no primeiro processo, também agora as dívidas resultam da emissão de bilhetes de avião. Tanto a Marsans como a Mundiclasse perderam, este ano, a licença para emitir passagens e recorreram à Entremares. No pedido de insolvência entregue pelo operador turístico é reclamada uma dívida de praticamente 57 mil euros.

Além da Entremares, também a brasileira Del Bianco integra o processo. A empresa alega ter fornecido serviços aos clientes da Mundiclasse, no Brasil, sem ter recebido a respectiva compensação. Neste caso, reclama-se um crédito vencido de aproximadamente 19 mil euros.

Os valores associados ao processo (76 mil euros) poderão não ser suficientes para que o tribunal decida deferir o pedido e considere a agência insolvente. Mas poderá ser o rastilho para o surgimento de outros credores, já que um relatório financeiro a que o PÚBLICO teve acesso mostra que, só este ano, 15 empresas moveram acções contra a Mundiclasse, fundada em 1997.

A dívida total ultrapassa os 425 mil euros, mas, de acordo com o administrador da agência de viagens portuguesa, é muito superior. "O passivo deve rondar os seis milhões de euros", afirmou ao PÚBLICO, garantindo "que está tudo a ser negociado".

Ilídio Gouveia, maior accionista da Mundiclasse, ficou "surpreso" com o pedido de insolvência, explicando que "havia negociações para chegar a um acordo", que incluíam cedência de activos à Entremares. O gestor assegurou que a empresa "também está em contencioso com entidades que lhe devem dinheiro".

Ilídio Gouveia sublinhou que a agência de viagens "não vai fechar", mas admitiu que 2010 foi penoso em receitas. Depois de ter investido em dez lojas, a Mundiclasse deverá registar quebras na facturação "entre 20 e 30 por cento" este ano, admitiu. E, por isso, "será feito um redimensionamento da estrutura", que resultará "no encerramento de dois ou três balcões", avançou o gestor.

Um plano que preocupa os trabalhadores da empresa, que chegou a empregar 120 pessoas e agora tem 84. O Sindicato da Marinha Mercante e Agências de Viagens avançou que tem "recebido contactos de trabalhadores, que querem sair da Mundiclasse porque já não receberam o mês de Outubro". Ilídio Gouveia admitiu que "houve um atraso", mas assegurou "que já está tudo pago".

Contactada pelo PÚBLICO, a associação do sector disse "estar em crer que os clientes não serão afectados, uma vez que as principais consequências estarão nas relações com os fornecedores". Ainda assim, solicitou que a agência lhe enviasse informações "sobre a sua situação económica e sobre eventuais implicações para o mercado", mas a Mundiclasse ainda não respondeu.
 
http://economia.publico.pt/noticia/mundiclasse-ameacada-com-pedido-de-insolvencia_1468430

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