A conjuntura económica portuguesa é um dos temas salientes da última edição do Le Monde, que conclui que o país caminha "inexoravelmente para a pobreza". A publicação francesa salienta que Portugal atravessa um período de paralisação económica, sem porém ter conhecido "os delírios bancários da Irlanda, as loucuras imobiliárias da Espanha ou mesmo as manifestações de rua da Grécia".
De todos os países em crise da União Europeia, Portugal foi aquele que pior soube compensar por "pontos fortes" os "pontos fracos" identificados pelos analistas económicos. O País "não está forçosamente ameaçado pela bancarrota imediata, mas está desprovido de perspectivas de melhoria", sublinha o articulista.
O artigo cita o dirigente da CGTP, Carvalho da Silva, que diz que "o aparelho produtivo foi destruído com a integração europeia". O historiador e ex-deputado Fernando Rosas sublinha, por seu lado, que "a agricultura foi esvaziada pela marcha forçada em direcção ao sector terciário."
Já o sociólogo e antigo ministro António Barreto considera que "durante 30 anos a economia do País nunca foi sustentada pelo crescimento, geralmente fraco, mas pelos subsídios do estrangeiro", quer se tratassem das remessas dos emigrantes quer das comparticipações comunitárias. António Barreto admite até convulsões que se esperava definitivamente arredadas da História de Portugal: "Seremos nós capazes de resolver esta crise em democracia? Ou será que tudo vai terminar com um regime autoritário?"
Igualmente com uma visão pessismista sobre a conjuntura, o politólogo Manuel Villaverde Cabral lamenta que o jogo político entre os dois partidos que se sucedem no poder exaspere os observadores: "Nada diferencia as suas políticas clientelistas."
O artigo enumera ainda as consequências do próximo Orçamento do Estado - redução dos salários na função pública, aumento dos impostos e baixa nas despesas públicas gerais e sociais - no crescimento do desemprego e da pre- cariedade laboral em 2001e na contracção do crescimento económico. E a "este rigor sem precedente" vai seguir-se uma "reacção inédita: uma greve geral", conclui o Le Monde.
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