À procura de textos e pretextos, e dos seus contextos.

06/11/2010

Ex-paginador perdeu a prestação que lhe garantia a sobrevivência

Tem uma história de vida complexa. Era gráfico. Há mais de dez anos, trabalhou como paginador, depois foi repórter em dois jornais regionais da Margem Sul. Deixou-se apanhar nas malhas da droga.
"Infelizmente, agarrei-me às drogas duras", admite Jaime Filipe, 57 anos. Para matar o vício, aceitava traficar "pequenas quantias". Um dia, foi apanhado pela polícia, julgado por tráfico e condenado a sete anos de prisão. Saiu da cadeia em 2007, já curado. Deixou o vício.
Inscreveu-se no fundo de desemprego, mas nunca mais conseguiu arranjar trabalho. Dizem-lhe que é velho. Vive numa casa sem água e sem luz, perto do Pinhal Novo.
Até Maio, recebia 187 euros de rendimento social de inserção mas, subitamente, esse dinheiro foi-lhe cortado. Inscrevera-se num curso de energias alternativas, mas teve de recusar fazê-lo, quando percebeu que teria de trabalhar com um maçarico a soldar cobre. O trauma que tem de ter sobrevivido a um incêndio que matou três crianças numa casa abandonada do Pinhal Novo, em Junho do ano passado, impede-o de mexer no fogo. E as mãos inchadas, com que acorda todos os dias e que os médicos dizem ser artroses, também o impossibilitam de fazer trabalhos manuais.
Revoltado, Jaime Filipe gostava de ter a oportunidade de trabalhar como porteiro ou ao computador. Por estes dias, come apenas uma refeição por dia, da caridade alheia. Não sabe como vai ser o seu dia de amanhã. Mas garante que nem a morrer à fome vai roubar ou fazer mal à alguém.

http://jn.sapo.pt/PaginaInicial/Nacional/Interior.aspx?content_id=1704202

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