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28/11/2010

Crise e desemprego transformam saídas temporárias em definitivas

A emigração do século XXI tem um carácter menos definitivo, embora muitos acabem por se fixar nos países de destino. É, também, mais qualificada , embora continue a haver fluxos de mão- -de-obra indiferenciada. Emigrantes que vivem no Reino Unido, na Espanha, na Suíça e em Angola são exemplos desta nova realidade.
REINO UNIDO
Margarida Carvalho da Silva, 34 anos, licenciou-se em Engenharia Agrícola, em Évora. O marido, de 31, formou-se em Biologia, em Lisboa. Emigraram para Inglaterra há cinco anos para fazerem doutoramento com bolsas do Governo inglês. Hoje sabem que não têm emprego em Portugal para as habilitações adquiridas. Vão ficar.
"No início, nunca nos sentimos emigrantes, achámos que era de passagem, agora é cada vez mais difícil regressar. Com o doutoramento não arranjo emprego. Pensámos ser um investimento e verificámos que o que fazemos aqui não podemos fazer em Portugal", lamenta Margarida.
O marido fazia investigação na Faculdade de Ciências, em Lisboa, e recebeu uma bolsa na Universidade de Notthingham, onde ficou a trabalhar. E já fizeram o mesmo convite a Madalena para quando acabar o doutoramento, embora ela preferisse a indústria. Mas acabaram de ter um filho e precisam de tempo para a criança.
ESPANHA
João Pola fez Engenharia Electrotécnica no ISEL, em 2004, mas não ficou por cá muito tempo. "Candidatei-me a várias empresas, mas foi uma multinacional do sector eléctrico que me ofereceu o lugar mais interessante", conta o jovem engenheiro de 30 anos. Uma das condições era ir para Madrid e, em 2005, João Pola tornou-se um dos 12 mil portugueses que nesse ano foram para Espanha trabalhar. "É um desafio interessante. Conhecem-se outras culturas, aprende- -se imenso", diz João Pola, que vive a experiência como "uma oportunidade". Os amigos chamam- -lhe emigrante, mas ele vê-se como "cidadão do mundo". Cruzar fronteiras "é hoje muito mais fácil". Ele próprio tem amigos que fizeram uma escolha idêntica à sua. E embora as raízes sejam importantes, voltar a Portugal não está para já nos planos. Não é uma porta fechada, mas é preciso que haja oportunidade.
SUÍÇA
Susana Coelho, 31 anos, e o companheiro, 27, viviam em Viseu. Ela era administrativa, mas estava desempregada há dois anos. Ele trabalhava num armazém, a pensar que fazia mais do que lhe pagavam. Decidiram emigrar. Foi através de amigos e de familiares que escolheram Zug, Suíça. "Foi difícil no início. Vim trabalhar para as limpezas de escritório, temporário e pago à hora. Não era o que fazia em Portugal, mas habituamo-nos. Emigrar foi o melhor que fiz", diz.
Vai fazer dois anos em Março que emigraram. Susana tem uma patroa suíça, com quem fala em inglês. O companheiro começou nas obras e está nos isolamentos. 
ANGOLA
João Correia, licenciado em distribuição e logística, trabalhava aqui numa empresa de material eléctrico quando, há dois anos, tinha ele 27, a empresa lhe lançou o desafio de criar de raiz uma filial em Luanda.
"Não tinha compromissos, era uma oportunidade e um desafio. Aceitei", conta. "Não foi fácil, há muita burocracia, mas correu bem." Hoje dirige uma empresa em Luanda com sete pessoas, e apaixonou-se por Angola. "O clima, as paisagens, a convivência", enumera.
O regresso não está para já no horizonte e todos os meses vê chegar mais portugueses.

http://dn.sapo.pt/inicio/portugal/interior.aspx?content_id=1722200

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