O Banco Mundial (BM) criou um fundo para gerir os créditos incobráveis ou sob moratória dos bancos ocidentais que actuam nos países do Leste da Europa, estimados num total de cerca de 200 mil milhões de dólares.
Através da subsidiária International Finance Corporation (IFC), a instituição pretende absorver a dívida acumulada pelos bancos em chamados «activos tóxicos», recolocando-os, posteriormente, no mercado de capitais com a expectativa de vir a cobrá-los com vantagem futura.
Para tal, a IFC já dispõe de um «fundo de maneio» de 250 milhões de dólares, mas o BM prevê a canalização de pelo menos mais 1,5 mil milhões de dólares para o fundo que, espera ainda, venha a ser comparticipado por entidades privadas interessadas em lucrar milhares de milhões neste processo.
O objectivo é «limpar» os principais bancos das potências capitalistas do crédito malparado resultante das respectivas operações no Leste europeu, permitindo-lhes, simultaneamente, voltar em força à actividade anterior: investir e especular sem o lastro financeiro da crise que os impedia de contrair os montantes de crédito que pretendem junto dos bancos centrais dos Estados.
A localização da sede do fundo em Viena também não é casual. As instituições financeiras da Áustria são, entre os conglomerados do Centro e Norte da Europa, das que mais empréstimos fizeram às antigas nações do campo socialista e que mais hipotecas insolúveis detêm.
Hungria, Roménia e Ucrânia são apenas alguns dos países mais duramente atingidos pela crise capitalista, declararam bancarrota e foram «salvos» pelo Fundo Monetário Internacional. Os três estados do Báltico, mas também outros novos membros da UE e da Nato, encontram-se igualmente em situação muito difícil, com níveis históricos de decréscimo económico e endividamento, quer público, quer das empresas (aumentos de cerca de 50 por cento do número de falências em 2008) e das famílias, a braços com a crescente erosão do seu poder de compra – fruto dos baixos salários e da precariedade – e com taxas de desemprego de dois dígitos que superam em muitos pontos percentuais as registadas na Europa Ocidental.
Lucrar com PME´s e sector público
Paralelamente, o IFC procura dotar o capital financeiro de conhecimentos que lhe permitam absorver capital proveniente das pequenas e médias empresas (PME’s). No Japão, por exemplo, o instituto, em parceria com o governo local, promoveu recentemente um curso para 30 banqueiros de 20 instituições do Nepal, Butão, Sri Lanka, Índia e Bangladesh. Do programa curricular constavam sessões sobre a construção de produtos financeiros destinados a PME’s, isto é, como criar linhas de crédito que amarrem aquelas empresas a créditos contraídos a elevadas taxas de juro junto do sector financeiro.
Tudo isto é feito em nome da retoma económica e do emprego, dizendo que as PME’s podem ser, senão o motor, pelo menos uma peça importante da recuperação da economia de mercado, mas sabendo que cerca de 90 por cento do total de empresas no mundo são PME´s - movimentando um volume de negócios de nenhum modo desprezível para o grande capital – fica claro que este está sobretudo apostado em reproduzir através destas uma parte do capital acumulado.
Outra linha de orientação clara do capital é a absorção de serviços públicos tornando-os mais uma área de acumulação de lucro. Em Moçambique, por exemplo, a IFC ambiciona «apoiar» a entrada do sector privado na gestão do abastecimento de água.
http://www.avante.pt/noticia.asp?id=32354&area=11
À procura de textos e pretextos, e dos seus contextos.
04/02/2010
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