Mais de 34 milhões de trabalhadores perderam o emprego o ano passado. Os dados da OIT mostram quem está a pagar a crise capitalista.
De acordo com o relatório anual «Tendências Mundiais do Emprego», divulgado a semana passada pela Organização Internacional do Trabalho (OIT), no final de 2009 havia cerca de 212 milhões de pessoas sem emprego em todo o mundo, mais 34 milhões do que no período precedente.
Entre 2007 e fins de 2010, a crise capitalista pode ter custado um mínimo de 50 milhões de postos de trabalho, estima a OIT, fazendo subir a taxa de desemprego mundial para os actuais 6,6 por cento da população activa.
Particularmente grave é a situação nos países ditos desenvolvidos. Só entre os 27 estados membros da «abastada» UE, a taxa de desemprego passou de 6 para 8,4 por cento em 2009. Em 2007 esta taxa era de 5,7 por cento.
No total, as principais potências capitalistas foram responsáveis por 40% dos mais de 34 milhões de empregos perdidos (12 milhões de despedimentos, sobretudo os sectores industriais), isto apesar de acolherem no seu espaço territorial menos de 16 por cento da força de trabalho global.
2010 com a mesma receita
No documento, a OIT estima ainda que o ano de 2010 não trará melhorias neste aspecto entre as nações mais ricas, isto apesar do Fundo Monetário Internacional (FMI) ter apregoado previsões de crescimento económico superiores a um por cento. Mesmo que os números avançados pelo FMI sejam alcançados ou até superados, tal pode não se traduzir em reflexos imediatos no mercado laboral, diz a organização.
A explicação é simples e não podia ser mais clarificadora quanto à natureza do sistema. «Tendo em conta o excesso de capacidade criado pela crise, muitas empresas vão em primeiro lugar considerar um ajustamento do horário de trabalho dos seus trabalhadores, antes de considerarem a criação de novos postos de trabalho», adianta a OIT, confirmando que, depois do «assalto» do sector financeiro especulativo aos fundos públicos para suprir as carências de liquidez, a destruição de forças produtivas e o aumento da exploração sobre a classe operária e os trabalhadores em geral são os ingredientes principais da receita do capital, apostado em manter e aumentar os lucros que procura obter com crise e sem crise.
Para a UE e para os países «desenvolvidos», a OIT antevê um novo aumento do desemprego. No total, diz, serão mais de 46 milhões de desempregados, mais três milhões que em 2009 e mais 17 milhões que em 2007.
A Ásia Oriental e o Sul daquele continente apresentam actualmente um total de 70 milhões de desempregados, mas a OIT calcula que nestas regiões as taxas de desocupação deverão estagnar ou mesmo diminuir.
Ao nível mundial, em 2010 o desemprego deve afectar mais de 7 por cento da população activa mundial, deixando outros 16 milhões de trabalhadores sem terem a quem vender a sua força de trabalho, ou seja, o ano que agora começa pode terminar com um recorde de 228 milhões de desempregados.
Futuro hipotecado
Os jovens são, seguramente, dos mais afectados no actual contexto de crise capitalista. Em 2009, cerca de 13,4 por cento dos desempregados no mundo eram jovens, ou seja, mais de 82 milhões de pessoas.
O índice mostra um aumento de quase dois por cento face a 2007 e é mesmo o maior crescimento desde que a OIT começou a desagregar a categoria estatística, em 1991.
Cerca de um terço dos empregos destruídos até ao final de 2009, 10,2 milhões, eram ocupados por jovens.
Pobres e precários
Para além dos números relativos ao desemprego, o relatório da OIT analisa ainda os dados relativos aos vínculos laborais e à pobreza entre os trabalhadores.
Segundo o texto, mais de metade dos trabalhadores em todo o mundo, 50,6 por cento, tem empregos vulneráveis para uma taxa de população activa de quase 65 por cento da população mundial. A precariedade e o subemprego atingem, agora, um bilião e 500 milhões de pessoas, mais 110 milhões do que em 2008.
Por outro lado, nas «Tendências Mundiais do Emprego» afirma-se que, em 2009, a taxa dos trabalhadores em situação de extrema pobreza estava entre os 7 e os 9,9 por cento do total dos trabalhadores, o que revela um incremento de no máximo 3,3 pontos percentuais em relação a 2008.
Segundo a OIT, em 2008, 633 milhões de trabalhadores viviam com menos de 89 cêntimos de euro por dia, e outros 215 milhões estavam em risco de pobreza em 2009.
http://www.avante.pt/noticia.asp?id=32351&area=11
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