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02/02/2010

Estoril-Sol - "Não quero dinheiro, só que me deixem ficar"

Os trabalhadores que a Estoril-Sol quer despedir ainda estão em choque

Tem só 31 anos, mas é já o segundo despedimento que enfrenta. O primeiro foi há sete anos, quando fechou o Hotel Estoril-Sol. Conseguiu depois ser reintegrada no Casino Estoril, onde é empregada de bengaleiro e, quando menos esperava, o pesadelo recomeçou.

Teresa Silva, que pediu para não ser usado o seu nome verdadeiro, é um dos muitos casos sociais graves na lista de 113 funcionários abrangidos pelo despedimento colectivo anunciado no início de Janeiro pela Estoril-Sol. O marido, empregado de mesa, não tem trabalho certo, e Teresa só pode aceitar um emprego em horário nocturno, porque tem uma filha de cinco anos, autista, e ambos se revezam para ficar com ela.

Com o desespero estampado no rosto e nas palavras, Teresa confessou ao DN que não quer dinheiro nenhum para sair da empresa: "Nem que me oferecessem o dobro, só quero que me deixem continuar a trabalhar." E mais não disse, porque as lágrimas que tentava conter por fim lhe calaram a voz.

Na faixa etária oposta, António Manuel Rosado, de 50 anos, porteiro da sala de jogos, também ainda não se refez do choque. "Trabalho aqui desde os 14 anos, com a minha idade onde irei conseguir outro emprego?", questiona, sabendo de antemão a resposta. Por enquanto a mulher tem trabalho, mas o contrato é a prazo e o futuro incerto. O que vai fazer, ainda não sabe, "talvez tentar a emigração".

São só dois exemplos dos muitos que constam da lista de despedimentos no Casino Estoril, a quem a compensação financeira oferecida de pouco vale. Dos 113 funcionários abrangidos pelo despedimento colectivo, apenas um quinto estará em condições de poder aceitar a proposta da administração de 1,5 salários por ano de trabalho para não impugnarem o processo. "Calculamos que só 20 a 25 pessoas estarão em condições de poder aceitar as propostas da administração", disse ao DN o coordenador da comissão de trabalhadores.

Mas fora da lista "há interessados" e "se fossem dois salários e um prémio segundo a idade, como na última negociação, haveria muitos mais e todos os problemas sociais ficavam resolvidos", garante Clemente Alves. A comissão de trabalhadores chegou a apresentar uma lista de 101 nomes à administração, que não aceitou a solução, por alegadamente implicar "um encargo financeiro incomportável", explicou, acrescentando que seriam "só mais 2,5 milhões de euros". O custo da actual proposta é de oito milhões.

http://dn.sapo.pt/bolsa/emprego/interior.aspx?content_id=1484502

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