Qualquer pessoa pode cair na pobreza, mas não se trata de uma fatalidade sem saída, defendem organizações envolvidas no Ano Europeu do Combate à Pobreza.
"Se calhar há dez anos falava-se da pobreza, toda a gente sabia que existia, mas era quase tida como uma fatalidade", afirmou à Agência Lusa o director-geral da organização não-governamental (ONG) Oikos, João Fernandes, defendendo a necessidade de dar "visibilidade" à causa da luta contra a pobreza em Portugal.
"Acreditar que é possível erradicar as formas mais violentas da pobreza, que tornam as pessoas e as famílias dependentes do Estado, que lhes tira toda a autonomia, autoestima e dignidade" vai ser o mote para o trabalho da Oikos este ano, que quer "mobilizar todo o tecido social, as empresas, os cidadãos e as associações".
"A capacidade de sofrimento do ser humano é muito limitada. As pessoas que mais diretamente estão afetadas pela pobreza muitas vezes acabam por baixar os braços ao fim de algum tempo, sem encontrarem muitos apoios, e aqueles que têm uma situação remediada ou até economicamente vantajosa muitas vezes preferem não ver, porque ver significa ter que agir", afirmou.
Por isso, a Oikos aposta em recuperar as "redes sociais" que se "desestruturaram": as ligações entre o meio urbano e o Interior e as ligações entre as gerações, no fundo, "recriar a solidariedade humana".
"Há duas ou três décadas, a pobreza era vista como algo que só acontece aos que não trabalham, aos que não se empenham", mas hoje, em Portugal e num "mundo globalizado em que as crises surgem do nada, é possível que qualquer família passe por uma situação de pobreza", realça João Fernandes.
O responsável destacou ainda a importância de "ouvir os pobres" e saber quais as suas necessidades, fazendo-os "participar nas decisões públicas", e de "inspirar" o trabalho de base, feito "nos bairros, nos grupos de jovens".
Petição online
O presidente da Cáritas portuguesa, Eugénio Fonseca, defende que é preciso "criar oportunidades para as pessoas se livrarem da trama da pobreza".
"O nosso lema vai ser 'acabar com a pobreza já'. Não é para nós uma utopia, é possível desde que haja vontade política e a prestação dos cidadãos para que todos colaboremos no sentido de acreditar", afirmou à Lusa.
"Cada cidadão tem um contributo a dar na solidariedade e na ajuda mais próxima", além da exigência de o Estado criar "políticas de maior justiça social", disse.
"Vamos fazer o que estiver ao nosso alcance para criar essa consciência", apontou. "Não tem obrigatoriamente que se nascer pobre e morrer pobre, é possível superar as causas geradoras da pobreza", argumentou.
A Cáritas está já a recolher na Internet assinaturas para uma petição europeia que quer levar um milhão de assinaturas ao Parlamento Europeu para exigir "medidas objectivas" que combatam especificamente a pobreza infantil e promovam o acesso à saúde, à educação e ao trabalho digno.
O Ano Europeu de Combate à Pobreza e à Exclusão Social vai ser lançado em Portugal no sábado, com intervenções do Presidente da República e da ministra do Trabalho e da Solidariedade Social, na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa.
http://jn.sapo.pt/PaginaInicial/Sociedade/Interior.aspx?content_id=1487374
Sem comentários:
Enviar um comentário