Solução para falta de médicos nos serviços de urgência é criticada pelos especialistas
Cerca de 30% das urgências dos hospitais são já asseguradas por médicos pagos à hora. Trata-se da única solução para evitar a ruptura dos serviços, mas segundo os especialistas a situação afecta a qualidade do atendimento e tem custos financeiros extra.
E a tendência para a contratação destes médicos, a maioria a empresas de prestação de serviços irá continuar a crescer. "Está a aumentar. Na maioria das unidades do interior mais de metade dos médicos das urgências são de empresas", garante Mário Jorge Neves, da Federação Nacional dos Médicos (FNAM).
Carlos Arroz, do Sindicato Independente dos Médicos (SIM), adianta que os dados que dispõem apontam para uma média de 30% de urgências asseguradas por tarefeiros. "É lamentável", considera o sindicalista, alegando que são problemas como este que afastam profissionais do Serviço Nacional de Saúde.
É que os tarefeiros podem ter efeito desestabilizador. "O facto de os contratados para fazer urgências ganharem mais do que os colegas do quadro do hospital, muitas vezes com mais formação, desestabiliza", diz Pedro Lopes, presidente da Associação de Administradores Hospitalares. O mesmo alerta faz Mário Jorge Neves, da FNAM. "As equipas de urgência têm de ser bem articuladas e de ter uma hierarquia bem definida. Esta solução causa uma desregulação que prejudica todos", explica, acrescentando que se um médico que está de passagem decide internar o doente depois não vai poder segui-lo .
"Não ponho em causa a competência dos profissionais, mas há problemas de coordenação que tornam esta solução muito pouco aconselhável", concorda o director clínico do Santa Maria, Correia da Cunha. O maior hospital do País conseguiu superar a carência nas urgências de pediatria, obstetrícia e na urgência geral, onde há apenas uma médica tarefeira. Mas na urgência de Santo António dos Cavaleiros, que abriu no ano passado e faz parte do mesmo centro hospitalar, mais de metade dos médicos da urgência vêm de empresas. "Foi a única maneira", admite.
A percentagem de tarefeiros e os respectivos custos variam de hospitais para hospital. Mas Pedro Lopes não duvida que a solução sai cara. Ainda recentemente os hospitais pagavam até 100 euros por hora para conseguir atrair alguns especialistas. O descontrolo obrigou a Governo a estabelecer uma tabela com valores indicativos, que apesar de não ser inteiramente cumprida, veio moderar os pagamentos .
Para o director clínico do Hospital de Évora - que num ano precisa de médicos de fora para fazer 964 bancos de 12 horas na urgência geral e 800 de ortopedia , para citar apenas alguns - esta é uma opção de gestão. "A urgência hospitalar é um serviço aberto 24 horas, que precisa de muita gente. E mudou drasticamente nos últimos anos, porque recebe muita gente que não encontra resposta nos centros de saúde", diz Manuel Carvalho. É óbvio que os hospitais não tem médicos suficientes para as urgências, diz. Além disso, "infelizmente ainda não existe em Portugal nenhuma especialidade de emergência, dedica especificamente às urgências", critica.
Para Luís Campos, da comissão técnica de requalificação das urgências, o problema resulta do envelhecimento da classe: um terço dos médicos têm mais de 50 anos e os clínicos com esta idade deixam de fazer noites; a partir dos 55 não fazem urgências. Até que esta escassez seja compensada, nos próximos anos, há necessidade de recorrer a estas soluções, conclui.
http://dn.sapo.pt/inicio/portugal/interior.aspx?content_id=1485119
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