Ângelo Alves
«Chegou o momento de o mundo avançar numa nova direcção. Devemos iniciar uma nova era de cooperação, baseada no interesse mútuo e no respeito mútuo.» A frase veio-nos à memória ao ler várias notícias que marcaram o noticiário internacional da passada semana. Não porque ela corresponda à realidade mas sim porque os princípios que enumera estão em profunda contradição com essa mesma realidade.
Nas Honduras, a entrada em funções de Porfírio Lobo consuma o golpe de Estado levado a cabo pela oligarquia e o exército a soldo da Administração Norte-Americana. Com Zelaya no exílio cai a face da hipocrisia. Os EUA «normalizam» as relações anunciando novos apoios financeiros, Uribe corre para Tegucigalpa levando na mala um «Plano de acção em matéria de segurança» e a União Europeia afirma estarem reunidas as condições para voltar à carga com «acordos comerciais» na América Central. No Haiti, prossegue a invasão «humanitária» do país e os EUA protagonizam novos escândalos como a suspensão do transporte de feridos e doentes por razões financeiras ou o estacionamento de um navio da marinha norte-americana reconhecido pelo próprio Pentágono com um navio prisão, associado ao escândalo das prisões secretas flutuantes da CIA e do exército norte-americano.
No Médio Oriente, os EUA instalam novos sistemas anti-míssil Patriot em pelo menos quatro países do Golfo Pérsico, reposicionam nas imediações do Irão vários vasos de guerra, os generais do Pentágono falam abertamente da possibilidade de uma acção militar contra o Irão e a Alemanha acorda com Israel o fabrico e entrega em 2011 de um submarino com capacidade nuclear para estacionar nas costas do Irão. Simultaneamente o Congresso norte-americano é informado pela Casa Branca da venda de 4 mil e seiscentos milhões de dólares de armamento a Taiwan. Uma descarada provocação a que a República Popular da China já respondeu com a suspensão de contactos militares com os EUA e a ameaça de sanções económicas.
De facto, da América Latina ao Extremo Oriente a «direcção» é tudo menos «nova» e muito menos de «cooperação» e de «interesse e respeito mútuo». O espantoso é que a frase citada no início deste texto foi proferida não há muitos meses, na Assembleia Geral das Nações Unidas, exactamente pelo protagonista da recauchutada ofensiva imperialista nos quatro cantos do mundo - Barack Obama, o homem que alguns ainda têm a desfaçatez de afirmar que irá «mudar o mundo». Disse o que disse e faz o contrário. Mas a última palavra, essa caberá sempre aos povos!
http://www.avante.pt/noticia.asp?id=32338&area=25
À procura de textos e pretextos, e dos seus contextos.
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