A revista 'Sábado' publicou um texto, baseado em dados parciais, sobre a diferença de investimento do Estado nos jornais 'DN' e 'Público' (apenas 1,95% do total) e levantou a dúvida. Um estudo da Marktest esclarece agora que o 'Correio da Manhã' é o que recebe mais publicidade do Estado e sozinho tem 50% do total, apesar de ter o mesmo número de leitores do 'Jornal de Notícias'.
O Estado português investiu 8,8 milhões de euros em publicidade nos cinco principais diários generalistas: Correio da Manhã, Público, Diário de Notícias, Jornal de Notícias e 24horas. Metade deste investimento, cerca de 4,4 milhões, foi para o jornal da Cofina, segundo os resultados de um estudo da Marktest, pedido pela Administração da Controlinveste com o apoio das direcções, que avalia o número de anúncios inseridos no caderno principal e nos classificados nestas publicações, de Janeiro a Setembro de 2009, a preços de tabela e sem contemplar os descontos que todos os meios de comunicação praticam.
A segunda publicação que recebe mais publicidade estatal é o Jornal de Notícias (JN), propriedade da Controlinveste (também detentora do Diário de Notícias e do 24horas) com 2,4 milhões de euros de investimento, ou seja, cerca de 2 milhões de diferença do Correio da Manhã (CM). De acordo com os dados do último estudo da Bareme, ambas as publicações têm uma audiência média de um milhão de leitores (com vantagem de 16 mil pessoas para o título da Cofina).
A análise dos dados mostra ainda que os três títulos da Controlinveste receberam menos investimentos publicitários do que o CM, em 2009 (não estando contabilizados outros títulos da Cofina como o Jornal de Negócios, o Record ou a revista Sábado). Uma tendência que se verificava já em 2008. Os 6,2 milhões de euros de investimento no diário da Cofina concorriam com os mesmos três jornais da Controlinveste, em que foram investidos 4,9 milhões.
O investimento no DN corresponde a 1 milhão de euros e no Público a 876 mil euros. Os valores são inferiores aos de 2008, quando o diário da Controlinveste publicou 1,6 milhões de euros de publicidade e o concorrente da Sonaecom teve 1,4 milhões de investimento. A publicidade diminuiu em todos os jornais, excepto no caso do 24horas (250 mil leitores de audiência média), que passou dos 16 para os 54 mil euros - valores quase residuais para o diário se comparados com as demais publicações.
Do estudo da Marktest releva outro pormenor: cresceu o investimento no caderno principal dos diários generalistas, diminuiu no caderno de classificados, embora este continue a ser o local preferencial para o Estado anunciar.
Os números permitem concluir que o orçamento destinado ao caderno principal dos diários duplicou no caso do CM (mais 399 mil euros) e do DN (mais 174 mil euros), quase triplicou no Público (mais 138 mil euros) e cresceu menos de 1% no JN (mais 176 mil euros). Em contrapartida, diminuiu o investimento nos cadernos de classificados: menos 38% no CM, menos 51% no Público, menos 53% do DN e menos 35% no JN.
Empresas privadas em que o Estado tem uma participação estão fora das contas deste estudo, mas há dados autónomos sobre os seus investimentos que permitem ver, por exemplo, que é também no CM que as companhias mais investem: EDP (208 mil euros), PT (157 mil euros), Uzo (139 mil euros) e Caixa Geral de Depósitos (394 mil euros) mais anunciam. A excepção é a TMN, onde é o DN que capta que mais publicidade (339 mil euros). O JN é o terceiro no investimento da EDP (124 mil euros) e da TMN (253 mil euros) e da Uzo (14 mil euros).
O investimento do Estado em publicidade não é contabilizado, uma situação que Jorge Lacão, ministro dos Assuntos Parlamentares com a tutela da pasta da Comunicação Social, já disse que irá mudar (não se sabe quando nem como) com a criação de uma base de dados online onde estejam disponíveis o investimento e a criação de "critérios que assegurem a transparência". As declarações foram feitas a 9 de Dezembro, na Comissão de Ética, Sociedade e Cultura, depois da revista Sábado (da Cofina) ter publicado um artigo que sustentava existir discriminação por parte do Governo e de organismos públicos na distribuição de publicidade. Um texto de seis páginas baseado em dados parciais - referia apenas o DN e o Público e só no caderno principal. As acusações levaram à abertura de um processo por parte da Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC). Este grupo de trabalho volta a reunir-se amanhã, com a presença do presidente da autoridade reguladora, Azeredo Lopes.
http://dn.sapo.pt/inicio/tv/interior.aspx?content_id=1452791&seccao=Media
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