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22/12/2009

59 por crimes de escravidão

O Ministério Público do Porto acaba de acusar 59 indivíduos por envolvimento em crimes de escravidão de centenas de portugueses para a agricultura em Espanha. Há casos de cativeiro que duraram oito anos.

A investigação, a cargo da Polícia Judiciária do Porto, incidiu sobre a actividade de 13 grupos, designados por "clãs", que se dedicavam à angariação de trabalhadores para quintas e caves vinícolas em várias regiões do país vizinho, através da promessa de salários razoáveis com despesas de alojamento e alimentação pagas.

Alvo de aliciamento eram pessoas com especiais debilidades, além de carências financeiras. Em especial eram procurados analfabetos, deficientes mentais ou dependentes de álcool ou drogas.

De acordo com relatos no processo, tutelado pelo Departamento de Investigação e Acção Penal do Ministério Público do Porto, a angariação dos trabalhadores era efectuada em localidades do interior - onde eram também residentes vários dos suspeitos -, mas também no Porto, em zonas próximas de estações de autocarros, de comboios, hospitais e mesmo no centro da cidade.

Chegados a La Rioja, Logroño, ou outras cidades do Norte de Espanha, os trabalhadores eram então colocados em situações desumanas e a viver sob constante ameaça e intimidação.

Eram obrigados a trabalhar na agricultura ou nas obras desde o nascer até ao pôr do sol, sem folgas, comiam sandes ao almoço e, ao jantar, eram-lhes fornecidos os "restos" da alimentação dos "clãs", que serviam também para dar de comer a animais.

À noite, há relatos de pessoas que tiveram de construir cabanas com plásticos segurados por paus para não dormir ao relento; casos de pessoas que viviam em armazéns, a dormir em cima de colchões retirados do lixo; e ainda situações em que os trabalhadores viviam em casas degradadas, sem casa-de-banho, o que os obrigava a tomar banho em rios ou riachos.

Durante vários anos, centenas de trabalhadores estiveram nesta situação. Alguns conseguiram fugir e contar tudo às autoridades, de Portugal e do país vizinho, mas sempre sob receio de represálias por parte dos grupos. Estão arroladas como testemunhas 65 dessas pessoas.

Segundo a acusação do Ministério Público contra os membros dos clãs - radicados nas zonas de Belmonte, Bragança, Moncorvo ou Alfândega da Fé, por exemplo -, o caso mais dramático parece ser o de um casal que esteve desde 1997 até 2005 sob cativeiro de um dos grupos.

Além de obrigada a trabalhar e de viver em más condições, a mulher foi repetidamente violada pelo chefe do grupo. Por duas ocasiões o casal tentou a fuga por duas vezes e só à terceira foi bem-sucedido. Mesmo assim, os membros mais violentos do grupo tentaram por duas ocasiões levar o casal novamente para Espanha, mas sem sucesso.

J.N - 22.12.09

1 comentário:

Formiga disse...

É triste... são consequências da nossa sociedade.
No entanto existem outros actos que também deviam ser considerados crime, e punidos como tal.
No entanto só quando a nossa sociedade crescer em consciência é que isto pode mudar.

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