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23/11/2009

Quase 400 mil portugueses carenciados recebem alimentos que sobram da PAC

Em 2008, quase 400 mil portugueses receberam ajuda alimentar da União Europeia. Os alimentos em causa são excedentes da Política Agrícola Comum (PAC). Até ao final do ano a Segurança Social prevê distribuir um total de quase 18 mil toneladas de alimentos, mais do dobro do que no ano passado.

A Segurança Social prevê distribuir este ano 17,6 mil toneladas de alimentos vindos dos excedentes da Política Agrícola Comum (PAC). Em 2008 apenas tinham sido distribuídas 7,6 mil toneladas que na altura beneficiaram 375 mil portugueses.

A comida está a chegar aos portugueses com mais dificuldades económicas. Pedro Ribeiro, director adjunto do Gabinete de Planeamento e Políticas do Ministério da Agricultura, explica que este aumento drástico de alimentos disponíveis resulta de uma decisão da União Europeia que aumentou o investimento no Programa Comunitário de Ajuda Alimentar a Carenciados (PCAAC).

Ao mesmo tempo, registou-se uma descida acentuada nos preços dos alimentos nos mercados internacionais, o que permitiu adquirir ainda mais quantidades.

O responsável explica que, no âmbito da Política Agrícola Comum, «a Comissão Europeia adquire produtos que retira do mercado para garantir um rendimento mais elevado aos agricultores. São esses alimentos que agora vão ser entregues às populações carenciadas».

No ano passado a União Europeia comprou 7,6 toneladas de alimentos que acabaram por ser entregues a portugueses carenciados - um investimento de 12,6 milhões de euros. Este ano o investimento é de 23 milhões de euros e a Segurança Social diz ter 18 mil toneladas para distribuir.

Arroz, cereais ou leite em pó são alguns dos vários produtos comprados pelo Ministério da Agricultura e distribuídos pela Segurança Social com o dinheiro de Bruxelas. Pedro Ribeiro diz que era «incoerente ter excedentes alimentares guardados em armazéns quando há pessoas carentes de comida».

No ano passado 375 mil portugueses beneficiaram destes excedentes da Política Agrícola Comum. Este ano tudo indica que sejam mais. A presidente da Federação Portuguesa dos Bancos Alimentares Contra a Fome, Isabel Jonet, sublinha que o número de beneficiários desta ajuda alimentar europeia vai certamente subir e cada família carenciada vai receber uma maior quantidade destes produtos.

Isabel Jonet diz que estes alimentos são «essenciais para estas famílias tão necessitadas, que em muitos casos se encontram pela primeira vez numa situação de carência».

No terreno, são as Instituições Particulares de Solidariedade Social (IPSS) que recebem os alimentos e os distribuem pelos mais pobres. O presidente da União das Misericórdias Portuguesas aplaude a iniciativa de Bruxelas que chega nesta altura de crise.

Manuel Lemos afirma, no entanto, que o programa é «muito burocrático» e que perante um processo «tão complexo» muitas instituições pequenas optam por não concorrer. A União das Misericórdias Portuguesas diz que não faz sentido desperdiçar este aumento drástico de alimentos pagos por Bruxelas devido a burocracia.

TSF - 23.11.09

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