À procura de textos e pretextos, e dos seus contextos.

04/11/2009

A Dinâmica Espacial da Desigualdade na Região Metropolitana de São Paulo

Ao verificar a aplicabilidade ou não da tese de Cidade Global para a realidade brasileira, as pesquisadoras do Observatório das Metrópoles Suzana Pasternak e Lucia Bogus, tomam como ponto de partida uma concepção multidimensional da estruturação do espaço social. Em artigo apresentado na última reunião do Reserch Committe 21- Urban and Regional Research *, da ISA (International Sociological Association) as pesquisadoras apontam, com base na análise do espaço metropolitano de São Paulo, a crescente heterogeneidade dos espaços e o surgimento de um possível novo padrão de urbanização.

Abaixo, um resumo sobre o texto.

Os impactos sociais produzidos pelas transformações econômicas em curso no Brasil desde meados da década de oitenta foram externalizados particularmente nas grandes cidades e nas áreas metropolitanas, onde as transformações adquirem um significado mais profundo. A controvérsia que alimenta o debate centra-se sobre os efeitos da reestruturação produtiva no mercado de trabalho, com mudanças significativas na oposição entre as classes sociais que marcaram a era da industrialização fordista e a emergência de uma nova estrutura social, marcada por uma crescente polarização entre estratos superiores e inferiores da sociedade.

Essas questões são o foco da discussão sobre a cidade global (Sassen, 1998), cuja principal premissa é a existência de nexos entre as mudanças estruturais em curso na economia e na intensificação da dualidade social. Nesse processo, onde o setor terciário seria tomado contra o predomínio dos processos de modernização simultânea e uma retração relativa no emprego do sector secundário, não seria igualmente a reconfiguração e diminuição da classe média, tendo em conta as mudanças na estrutura produtiva e na organização e padrões tecnológicos. Algumas profissões, que são típicos da classe média estariam em declínio ou seriam re-qualificadas, enquanto emergem novas profissões ligadas à expansão das funções de gestão.

A estrutura social, apoiada nas informações da indústria de tecnologia, especialmente nas grandes cidades (metrópoles), seria apoiada, por um lado, pela existência de profissionais altamente qualificados e bem pagos, e por outro lado, trabalhadores menos qualificados e igualmente importante no contingente de trabalhadores, como secretárias, limpeza e manutenção dos trabalhadores, configurando uma estrutura social na forma de uma ampulheta. Essa imagem estaria em contraposição, porque representa o predomínio das classes média e trabalhadora na estrutura social e a presença reduzida dos estratos superiores e inferiores da estrutura.

Com base nesses pressupostos, o artigo pretende verificar a aplicabilidade ou não da tese de cidade global para a realidade brasileira. Essa pesquisa tem como ponto de partida uma concepção multidimensional da estruturação do espaço social, o que permitiu chegar a um entendimento mais refinado de possíveis posições sociais ocupadas por grupos de indivíduos, detectando as múltiplas escalas hierárquicas, no espaço social.
Uma hierarquia sócio-profissional foi elaborada com a construção de um conjunto de categorias, com base no censo de variáveis ocupacionais de acordo com a CBO -- Classificação Brasileira de Ocupações (Classificação Brasileira de Ocupações), estabelecida de acordo com a Organização Internacional do Trabalho (OIT), diretrizes da Classificação Internacional Tipo das Profissões (ISCO). Como ponto de referência, foi utilizado um sistema de classificação sócio-profissional da categoria, parcialmente inspirado no CS francês (aprovada pelo Institut National d'Économie et Statistique (INSEE) e parcialmente derivadas de esforços brasileiros sobre as profissões em França).

As autoras apontam algumas dificuldades de análise, devido a mudanças de métodos de definição do IBGE, como em 1991 a 2000, as mudanças tanto de desemprego como de tipo de ocupação fez uma comparação entre 1980, 1991 e 2000 difícil. Em 1991, o período de referência para verificar o status do emprego foi de 12 meses, como foi em 1980. Uma outra modificação também ocorreu em 2000, o modo de classificação profissional foi alterado usando a CBO - Classificação Brasileira de Ocupações (Classificação Brasileira de Ocupações) e do CNAE - Classificação Nacional da Atividade Econômica (Classificação Nacional de Atividade Econômica). Na pesquisa, foi feito um ajustamento na classificação de 1991 profissionais com a metodologia Censo de 2000, que permite uma comparação entre essas duas datas. Para 1980, entretanto, isso não foi feito. Portanto, qualquer comparação envolvendo os últimos 20 anos do século XX, só pode ser realizada com grandes grupos, e os por cento dos trabalhadores (ocupados) da população em relação ao total entre as três datas é impossível comparar. Por este motivo, a análise do desenvolvimento das categorias sócio-profissionais incidirá em 1991 e 2000. Deve-se salientar que o número absoluto de trabalhadores empregados em 1991 não é estritamente obtido da mesma forma como em 2000. Mesmo assim, a autora optou por analisar esse desenvolvimento, a despeito deste comentário. A análise relativa das porcentagens pode esclarecer o desenvolvimento profissional.

Ao fim da pesquisa algumas considerações foram feitas, como um possível "novo padrão de urbanização", resultante de uma reestruturação global da produção do setor foi provavelmente causada mais intensamente dupla estrutura social e aumento da precariedade das relações de emprego, aumento da pobreza urbana e segregação espacial, mudando a aparência de tal segregação. "Os dois principais símbolos da nova configuração seria a condomínios fechados e assentamentos precários (favelas chamado), entendido como a expressão desse novo padrão, mais excludente e polarizada que o anterior. Isto significa que os condomínios e os assentamentos seriam expressão de uma crescente aproximação geográfica entre os locais de moradia dos ricos e dos pobres, isto é, os grupos dominantes e dominados, ou então dos cidadãos e não cidadãos "(Lago, 2006: 47).

O foco do estudo de São Paulo seria a de que o modelo centro-periferia, caracterizado por uma distância geográfica e social entre as classes, ainda organiza o espaço metropolitano considerando-se o surgimento de novas configurações espaciais, tais como condomínios fechados e favelas. No entanto, algumas diferenças foram apontadas, como o real desenvolvimento do mercado imobiliário, mostra "uma mudança substancial no perfil de local de lançamento real-propriedade na Área Metropolitana de São Paulo." Eles examinam lançamentos imobiliários em 4 períodos, 1985-2003, e concluir que, embora as maiores proporções de lançamento foram realmente concentrado na região sudoeste da cidade de São Paulo, uma significativa propagação de lançamentos real-propriedade para outras áreas da cidade, tanto no Ocidente e Oriente os lados da cidade, incluindo os municípios do chamado ABC também ocorreram, principalmente nos últimos anos.

A distribuição sócio-espacial reflete, em certa medida, as mudanças na estrutura social detectadas na década: um forte aumento dos profissionais de nível superior, terciarização do emprego, perda do proletariado tradicional e moderna, o aumento do sector terciário não-profissionais especializados.

Embora existam diferenças - aumento de condomínios fechados e até mesmo em favelas - na revisão dos mapas de tipologia sócio-espacial de São Paulo em 1991 e 2000, vê-se a permanência de um centro-periferia na organização do espaço. Em 1991 e 2000, o local preferido residencial de camadas de mais alto nível é o núcleo central, rodeado por espaços onde as camadas de nível médio prevalecer. Na zona norte da capital, alguns setores nível médio de 1991 tornou-se setores de mais alto nível, o mesmo é verdadeiro para o setor sudeste. Em 2000 há um avanço de áreas de nível médio para as áreas do lado oeste e as áreas mais populares da metrópole e até mesmo as áreas de nível médio ocupar espaços que eram áreas agrícolas em 1991: Santana do Parnaíba, no eixo oeste, foi um área agrícola em 1991 e em 2000 foi classificada como área de nível médio. Mairiporã, no eixo Norte, que era uma área agrícola em 1991, tornou-se uma área popular em 2000. Por outro lado, os segmentos de espaço em Mogi, que foram menores classe operária e popular áreas em 1991, aparecem como áreas agrícolas em 2000, bem como todo o município de Santa Isabel.

Examinando empregos formais, percebe-se também uma mudança nos tipos: enquanto em 1991 35,22% dos empregos formais foram localizados nas áreas industrial, em 2000, o peso relativo do sector caiu para 25,34%. Por outro lado, a proporção de trabalhadores regularmente contratados no setor de serviços aumentou de 58,26% em 1991 para 59,26% em 2000. De um total de cerca de 1 milhão de empregos criados no período 1991-2000, apenas 17% eram de fabricação empregos da indústria e 56,5% foram empregos no setor de serviços. Há um processo de perdas na indústria de transformação, pelo menos no que diz respeito ao emprego. Essa perda de emprego na indústria é forte na capital. O ganho de postos de trabalho no sector do comércio está a crescer na metrópole como um todo, tanto na capital e nos demais municípios da região metropolitana.

A distribuição dos tipos de áreas na região metropolitana mudou: em 1991, a maior parte das áreas pertencentes ao menor tipo de classe trabalhadora, em 2000, essa posição era ocupada por áreas de nível médio. Essa distribuição de áreas reflete as mudanças na estrutura sócio-ocupacional da metrópole, que apresenta um forte aumento dos profissionais de nível superior, aumento de trabalhadores do setor terciário e de algumas categorias do setor terciário não-especializado (como vendedores ambulantes e improvisado trabalhadores) e redução de trabalhadores da indústria tradicional e moderna. A maior proporção de melhora ocorreu nas áreas de nível médio, correspondente a um melhor desenvolvimento profissional. Por outro lado, o aumento do número de áreas populares, 110-135, mostra a entrada de trabalhadores não-especializados do sector terciário. Áreas populares foram os que apresentaram o pior desempenho. Em 1991, a região metropolitana teve 22 áreas agrícolas, das quais 6 áreas tornou-se popular, mostrando uma expansão no setor terciário não-especializado no espaço metrópole. Examinando o trabalho em áreas de classe, 40,22% dos trabalhadores melhoraram sua posição hierárquica.

Finalmente, o que se percebe na metrópole é que nos setores mais pobres (Norte e Sudoeste) há um agravamento significativo, com desproletarização e popularização. No eixo Norte, há uma forte transformação da Baixa de trabalho em áreas de classe em áreas populares em Francisco Morato e Franco da Rocha. A AXIS SOUTHWEST tinha uma forte proporção de áreas agrícolas, tanto em 1991 e em 2000, embora essa proporção diminuiu em 2000. Parte dessas áreas agrícolas se tornaram mais popularizado, mostrando também a expansão das residências das populações mais pobres para uma periferia mais distante. No Oeste, áreas de nível médio emergir, trabalhando em áreas de classe são estabilizadas e áreas populares são ainda mais popularizada. No AXIS oeste há uma extensão das elites superior da metrópole. EIXOS Sudeste e Leste têm um comportamento semelhante, com os dois extremos, o nível mais elevado e áreas populares estabilizadas ou piora e as zonas intermediárias, principalmente nas áreas de nível médio, subindo na hierarquia tipológica, ainda mais intensamente do que o menor da classe operária áreas. Há um claro aumento de profissionais de nível superior, principalmente nas áreas de nível médio.

A conclusão com base na análise do espaço metropolitano de São Paulo foi a crescente heterogeneidade dos espaços. Espaços de maior nível de 2000, concedido ao sector oeste ganhou os profissionais de nível superior, embora tenham perdido as camadas de nível médio e as camadas populares. Tornam-se mais "nível superior", mas com menos gestores e grandes empregadores, que foram reduzidas em toda a metrópole. As camadas restantes são fortemente concentrada naqueles espaços de nível superior. Nos espaços de nível médio da mistura social tornou-se mais significativo, com um acentuado ganho de trabalhadores manuais urbanos. Baixa classe trabalhadora espaços também mostram uma mistura social mais significativo em 2000 do que em 1991, com um aumento superior e categorias de nível médio. Os espaços populares de 2000 têm uma maior proporção de algumas categorias de nível superior, perdem os trabalhadores manuais e sector terciário ganhar e não especializada, os trabalhadores do setor terciário.
Para ler o artigo na íntegra, clique aqui.
* A reunião do Reserch Committe 21- Urban and Regional Research, da ISA (International Sociological Association), aconteceu dos dias 24 e 25 de agosto, em São Paulo.

Observatório das Metrópoles - 02.09.09

Sem comentários:

Related Posts with Thumbnails