Última resistente na região, a Beiralã enfrenta um processo complexo, em que os trabalhadores são os últimos da fila de credores. Dificuldades começaram há sete anos, com o fecho da Gartêxtil
As indefinições no processo de insolvência da têxtil Beiralã, de Seia, prolongam a agonia da última grande empresa do sector dos lanifícios da Beira Alta, mas o toque de finados começou há quase sete anos, quando fechou a Gartêxtil. Os trabalhadores são os últimos da longa fila de credores de um sector que "foi explorado enquanto deu e que nunca investiu, nem na modernização, nem na requalificação dos trabalhadores".
Desde 2008, quando se concretizou oficialmente a insolvência da Gartêxtil (ver caixa), que o sector dos têxteis da Beira Alta, lanifícios, malha e confecção entrou numa lenta agonia. Os dias do fim chegam agora, com a mais que provável insolvência da Beiralã, a última grande resistente.
Dominado por "empresários que nunca investiram e que retiram o máximo que podem das empresas, o sector não está irremediavelmente condenado, mas precisa de apostar na modernização e qualificação dos trabalhadores", defende o presidente do Sindicato Têxtil da Beira Alta.
A crise "que vai ditando as falências começou na década de 1990 e foi propiciada por má gestão e falta de cabeça de muitos patrões, que apenas apostaram em salários baixos", afirma Carlos João. Se nos lanifícios a média de idades dos operários ronda os 50 anos, nas confecções e malhas "há muitos trabalhadores jovens que só precisam de que se aposte na sua qualificação", diz o sindicalista. Mas os números não enganam e desde os anos 90 que o encerramento das têxteis atirou para o desemprego milhares trabalhadores. O último exemplo vem da Beiralã, cuja assembleia de credores vai reunir no dia 26 para analisar o plano de insolvência traçado pelo administrador judicial.
O plano prevê a viabilização da fábrica, a criação de 150 postos de trabalho no prazo de um ano, a liquidação da totalidade da dívida à Segurança Social e o pagamento faseado das dívidas aos outros credores. Os trabalhadores deverão receber a totalidade dos salários em atraso, subsídios de Natal e de férias e respectivos proporcionais, pagos em 36 prestações mensais, assim como o pagamento de indemnizações até 8100 euros, através do Fundo de Garantia Salarial, acrescenta. O documento preconiza ainda a entrega da secção de fiação da Beiralã a outra empresa, mantendo-se as de tecelagem e de tinturaria. Os trabalhadores, "quase sempre os sacrificados", não abdicam do que quer que seja. "Quando trabalham não ultrapassam o salário mínimo e quando são despedidos vão para o fundo da lista", atira Carlos João.
A Beiralã fechou portas no final de Julho, quando o administrador judicial considerou não haver condições para pagar os vencimentos aos 90 trabalhadores que continuavam em funções. A fábrica está insolvente desde 1 de Abril, data em que foram despedidos os 120 trabalhadores.A Beiralã foi fundada em 1989 na cidade da Covilhã e em 1997 adquiriu o património da extinta Fisel, em Seia. Chegou a ter 210 trabalhadores.
D.N. - 06.11.09
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