Os 300 trabalhadores da fábrica Delphi da Guarda, que vão ser dispensados até ao final do ano, começaram hoje a receber as cartas de despedimento, disse à Lusa fonte sindical.
Segundo José Ambrósio, dirigente do Sindicato dos Trabalhadores das Indústrias Metalúrgicas e Metalomecânicas (STIMM) de Aveiro, Viseu, Guarda, e Coimbra, os operários começaram hoje “a receber as cartas” e aqueles que se encontram na empresa estão a ser notificados da decisão da administração da multinacional de fabrico de cablagens para a indústria automóvel.
“Já começaram a ser recebidas as cartas e sinto-me triste e também comovido com a situação, porque éramos uma família e essa família desmoronou-se”, disse José Ambrósio.
O sindicalista referiu que a empresa está a cumprir as condições que constavam num protocolo celebrado no ano passado que garante que os trabalhadores despedidos receberão dois meses de salários por cada ano de trabalho e que só será dispensado um elemento do casal, nas situações em que ambos trabalhem na empresa.
Uma trabalhadora, de 45 anos, que tem 20 anos de casa, contou à Lusa que se mantém na empresa mas o marido, 40 anos, funcionário há 17, recebeu hoje “a notícia do despedimento”, disse.
“Era melhor que ficássemos os dois”, disse a funcionária de linha, que não quis identificar-se, referindo que o casal tem uma filha a estudar no 9.º ano e outra a frequentar uma creche e encargos com o pagamento do empréstimo de uma casa de habitação.
O sindicalista José Ambrósio apontou este caso como garantia de que a Delphi está a cumprir o que ficou protocolado mas sempre disse que o dia de hoje “é um dia triste” para quem trabalha na maior empresa do distrito da Guarda, que possui cerca de 950 trabalhadores e prevê despedir mais 200 no primeiro trimestre de 2010.
Adiantou que a administração da fábrica disponibilizará ainda hoje aos sindicatos que acompanham a situação na empresa, a lista dos operários que serão despedidos até 31 de Dezembro.
José Ambrósio adiantou que hoje mesmo informou a direcção do sindicato a que pertence há já oito anos, que irá demitir-se “porque o objectivo que tinha não foi conseguido”, que era evitar os despedimentos.
“Sinto-me triste com os políticos e com toda esta situação e vou abandonar o sindicato”, desabafou.
Segundo José Ambrósio, os políticos “abandonaram” os trabalhadores da Delphi mas reconhece que “a administração da empresa sempre fez aquilo que pôde” para evitar a dispensa dos assalariados.
A Delphi, que já chegou a ter cerca de três mil operários, é a maior unidade empregadora do concelho da Guarda, estando sediada na Guarda-Gare, nas instalações da antiga Fábrica Renault, junto da estação da CP.
A administração da multinacional justifica os despedimentos com a crise mundial que atingiu o sector automóvel, que originou “redução da actividade” fabril no segmento das cablagens.
Público.pt - 06.11.09
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