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15/09/2009

Salários em atraso afectam sector vitivinícola

Em época de vindimas, no Douro centenas de trabalhadores agrícolas vivem situações de “extremas dificuldades” por terem salários em atraso, entre três e oito meses, denunciou hoje o coordenador da União de Sindicatos de Vila Real.

"Existem muitos e muitos trabalhadores agrícolas com salários em atraso", afirmou à Agência Lusa António Serafim.

Um desses trabalhadores, residente em Mesão Frio, explicou que, depois de alguns meses sem receber salário, o proprietário da quinta onde trabalha decidiu pagar, mas apenas porque foi "ameaçado" de que, se assim não fosse, não haveria pessoas para fazer a vindima.

Sob anonimato, o trabalhador referiu que as situações de salários em atraso se repetem "várias vezes ao ano".

"Sou o chefe de família. É o meu ordenado sozinho que tem que dar para sustentar a minha mulher e filhos e pagar todas as despesas desde a comida, renda, água ou luz", frisou.

Quando o ordenado de 400 euros não chega certo ao final do mês, o trabalhador diz que é obrigado a comprar fiado na mercearia. "Somos pobres mas não gostamos de dever", frisou.

Para António Serafim, este é um exemplo da situação de "extrema dificuldade" que afecta muitas famílias na mais antiga região demarcada do mundo - o Douro.

"Existem muitas situações de pobreza envergonhada e muitas destas pessoas, sem alternativas de trabalho, vêm-se obrigadas a emigrar à procura de melhores condições de vida", sublinhou.

O sindicalista lançou duras críticas às políticas dos governos PS e PSD para o sector vitivinícola duriense, aquele que considera ser o sustentáculo económico e social deste território, nomeadamente no que diz respeito à retirada de competência da Casa do Douro, a instituição que considera que devia ter "força" para defender os trabalhadores.

"Despojada de competências e de fontes de receita, a própria Casa do Douro já vai em cinco meses de salários em atraso aos cerca de 80 funcionários do quadro privado da instituição, uma situação grave que já levou ao pedido de rescisão por parte de cinco desses trabalhadores", salientou.

António Serafim criticou ainda a "má gestão" no sector corporativo duriense, que diz ter provocado situação de muita dificuldade em várias adegas do Douro.

Por exemplo, a adega de Alijó, recorreu a uma redução temporária do horário de trabalho ('lay-off') devido à diminuição das vendas de vinhos.

A situação financeira desta adega preocupa os 19 funcionários mas também os cerca de 550 associados, alguns dos quais já não recebem desde a vindima de 2005.

António Barros é viticultor em Presandães, aldeia localizada perto da vila de Alijó, e diz que a adega já não lhe paga desde a vindima de 2006.

"Devem-me muito dinheiro. Invisto grande parte da minha reforma na vinha e depois não recebo retorno nenhum", afirmou.

Destak.pt - 15.09.09

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