As normas laborais impostas pelo Governo começam a provocar a supressão de serviços na CP, avisa o Sindicato dos Ferroviários. A greve ao trabalho extraordinário recomeça este sábado.
A falta de uma resposta do Governo ao acordo que os sindicatos e a administração da CP firmaram a 21 de Abril «só pode ser entendida como uma atitude deliberada para provocar a supressão de serviços, o que já se vai sentindo com o fecho de bilheteiras», acusou o Sindicato Nacional dos Trabalhadores do Sector Ferroviário. Isto acontece por falta de trabalhadores e degrada o serviço prestado aos utentes, refere o SNTSF/CGTP-IN, num comunicado em que salienta que, «ao optar por manter estações fechadas, a CP abdica de arrecadar receitas». O sindicato questiona se «será isto que os responsáveis das tutelas querem, para justificar as medidas de privatização que têm estado na ordem do dia».
A partir de agora, com a aplicação do plano de férias anual, vai agravar-se a situação criada com a imposição da aplicação das regras da Função Pública nas empresas ferroviárias, em vez das normas do Acordo de Empresa. A 21 de Abril, com base num estudo que a administração mandou elaborar e que demonstra que na CP e CP Carga as regras do AE são mais vantajosas para a organização do trabalho (e respectivos custos), foi assinado um acordo com os sindicatos, que suspenderam as greves ao trabalho extraordinário iniciadas em Fevereiro.
Como as empresas estão proibidas de fazer admissões e têm orientação para reduzir os custos operacionais, manter esta situação só deixa à CP um caminho, que é a suspensão de serviços, para uma menor necessidade de trabalhadores, «como se fosse este o problema principal das empresas». O protesto do sindicato é completado com um exemplo: em 2010 a CP reduziu os custos do trabalho em 13,2 milhões de euros, mas o seu défice cresceu para 195 milhões (e agora sem incluir a CP Carga). «Mesmo que a CP deixasse de pagar os salários durante o ano, não seria suficiente para ter resultados positivos, já que o problema é estrutural e não devido aos encargos com trabalhadores», sublinha o SNTSF.
Para além do fecho de bilheteiras, o horário de Verão da Linha de Cascais também já reflecte estes problemas, acrescenta o sindicato. A procura cresce neste período, principalmente aos fins-de-semana, mas o novo horário mantém a frequência do horário de Inverno aos fins-de-semana (comboios de 20 em 20 minutos, a pararem em todas as estações), «o que certamente vai significar superlotação».
«Apresente a factura»
Em quantas outras situações aconteceu empresas públicas servirem para financiar iniciativas de empresas privadas? Esta foi a pergunta lançada pelo SNTSF, reagindo a declarações de José Paulo Duarte no Prós e Contras de 16 de Maio. O empresário do sector de transportes, assinala o sindicato, revelou que, em meados dos anos 90, um secretário de Estado lhe terá dito para apresentar à CP a factura da realização de um congresso associativo, que custava 25 mil contos.
A pergunta é especialmente pertinente, «no momento em que são exigidos sacrifícios aos trabalhadores e impostos constrangimentos ao funcionamento das empresas e no momento em que desenvolve uma enorme campanha contra as empresas e serviços públicos, sem se identificar as verdadeiras causas e culpados».
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