O ministro de Finanças grego, Guiórgos Papaconstantinu, advertiu, na terça-feira, em Atenas que o país deixará de pagar a dívida caso não receba 12 mil milhões de euros da ajuda externa.
Em entrevista ao canal privado ateniense Skai, o governante reconheceu que «se não recebermos o dinheiro até 26 de Junho, ver-nos-emos obrigados a fechar a loja e declarar a impossibilidade de pagar as nossas obrigações».
A eventualidade de um «colapso» já tinha sido equacionada, no domingo, pelo primeiro-ministro, Gueorguios Papandreu. No dia seguinte, o executivo grego decidiu avançar com novas medidas urgentes de austeridade para conseguir 28 mil milhões de euros adicionais até 2015 e anunciou o arranque imediato de um vasto programa de privatizações avaliado em 50 mil milhões de euros.
Todavia, os problemas do país radicam «numa recessão mais profunda do que esperado», disse o titular das finanças, explicando que o défice fiscal nos primeiros quatro meses do ano aumentou para 7246 milhões de euros, superando em 322 milhões de euros a meta inicialmente prevista.
A razão deste descalabro das contas públicas está nas políticas impostas pela troika FMI/BCE/UE, obedientemente seguidas pelas autoridades helénicas. Apesar disso, a orientação será mantida.
Neste sentido, o ministro Papaconstantinu revelou que, embora quisesse evitá-lo, o governo irá despedir mais funcionários públicos e reduzir o número de organismos estatais, reconhecendo que a sangria na Administração Pública já eliminou 83 mil trabalhadores, entre contratos a prazo não renovados e rescisões voluntárias.
A agência de notação Moody's avisou no mesmo dia que a eventual suspensão dos pagamentos por parte da Grécia poderá afectar não só países como Portugal e a Irlanda, mas também a Espanha, a Itália e a Bélgica.
Entretanto, a ideia da reestruturação da dívida grega é hoje vista como uma possibilidade real por alguns líderes europeus. No domingo, o próprio ministro das Finanças germânico, Wolfgang Schäuble, em declarações ao diário alemão, Bild, declarou-se favorável a essa opção, desde que o BCE e o FMI a apoiassem.
Degradação social
Noutra perspectiva, o processo em curso na Grécia visa um retrocesso social sem precedentes, segundo as declarações ao L´Humanité de Iánnis Kuzis, professor de universitário e conselheiro científico do Instituto do Trabalho grego.
Calculando a taxa real de desemprego em cerca de 20 por cento, Iánnis Kuzis afirma que, segundo dados do Ministério do Trabalho, os custos laborais no sector privado baixaram 15 por cento num ano. No sector público a redução foi de 25 por cento.
Os jovens entre os 20 e 24 anos recebem apenas 80 por cento do salário mínimo, podendo ser despedidos livremente nos primeiros 12 meses de contrato.
«A medidas tomadas para reforçar a competitividade são um beco sem saída. A Grécia é um laboratório para o mercado laboral europeu, como o demonstra o “pacto euro mais”. Tudo está a ser feito para igualar os custos salariais europeus com os do Terceiro Mundo. Isto pressupõe também a destruição dos sindicatos e um ataque à legislação laboral europeia.»
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