À procura de textos e pretextos, e dos seus contextos.

27/05/2011

Eduardo Mãos de Patrão

Correia da Fonseca

A cavalgada de espoliação dos trabalhadores tem em Catroga uma das luminárias e no PSD um dos instrumentos. A redução da chamada Taxa Social Única que defendem será uma espécie de subscrição nacional em favor dos patrões, todos ou alguns.
1. A televisão informou-nos de que o professor Eduardo Catroga, cérebro financeiro da candidatura Passos Coelho, partiu para férias a gozar algures no mundo. Entende-se a decisão da ilustre figura que devia estar exausta, tantos e tamanhos foram os trabalhos que teve de executar nestes últimos tempos. E, contudo, das suas capacidades dá concludente testemunho um apanhado sintético do seu percurso desde que no ano já distante de 67, brilhante aluno de Economia e Finanças, foi galardoado com o Prémio Alfredo da Silva, designação esta que se revelou profética, pois praticamente logo a seguir foi integrado no património encefálico do Grupo CUF, nele exercendo diversas funções, todas naturalmente de topo. Em 79, já a tempestade de Abril estava a passar, e estando então a exercer os seus talentos na Quimigal, teve oportunidade de sem o mínimo prejuízo para esse facto frequentar o Program for Management da Harvard Business School, e bem se sabe o que a palavra Harvard significa como garantia de aquisição dos conhecimentos certos e superiores que a Finança e a Economia ainda hoje dominantes exigem. Depois da Quimigal foi a Sapec, depois da Sapec foi a Nutrinvest, depois da Nutrinvest foi o Banco Finantia, depois do Banco Finantia foi a EDP. Chama-se a isto, sem dúvida, uma cascata de exercícios enriquecedores. Mas deixemo-nos de circunlóquios e abordemos o facto decisivo: o professor Catroga foi ministro das Finanças do professor doutor Cavaco Silva, e é óbvia a desnecessidade de acrescentar seja o que for.
2. As fontes a que tive acesso, para usar aqui uma fórmula que muito frequentemente ouço na televisão, informam-me de que pelos seus muitos trabalhos no passado o professor Catroga recebe uma pensão de reforma ligeiramente inferior a dez mil euros mensais, isto é, a dois mil contos na moeda antiga. Sejamos francos: é uma ninharia. É claro haver competências que não há dinheiro que pague, mas ainda assim resta-nos esperar que ao senhor professor nunca faltem trabalhos por fora, consultorias e similares, que coloquem os seus proventos a um nível mais compatível com os seus méritos. Consta aliás que Pedro Passos Coelho entregará ao senhor professor o ministério das Finanças assim que o voto popular o torne primeiro-ministro, e então é natural que as coisas se componham e a justiça remuneratória se afirme. Entretanto, já Catroga fez prova pública das suas vocações. Uma dessas provas foi, como se sabe, a da sua capacidade para exprimir o seu subido pensamento técnico usando uma linguagem reles. O caso suscitou algum espanto, mas não é grave: bem se sabe que não incompatibilidade total entre ser génio e escarrar na rua. Outra prova, porém, não apenas é de outra ordem como tem implicações mais graves: trata-se de espoliar a Segurança Social de todos os portugueses à velocidade de 8% mensais sobre os salários pagos. Isto para que o patronato, coitado, possa deter empresas mais competitivas. É a redução da chamada Taxa Social Única ultimamente muito falada, redução esta a ser eventualmente compensada por um aumento do IVA, já de si bem crescidinho. Será, nesse caso, uma espécie de subscrição nacional em favor dos patrões, todos ou alguns. Compreende-se: é sabido que eles merecem.
3. Alguns sujeitos mais desconfiados admitem que algum patronato prefira meter ao bolso, no todo ou em parte, a economia financeira obtida com a redução da TSU, em lugar de aplicá-la na baixa do preço dos seus produtos para eventual conquista de mercados externos, isto naturalmente no caso de se tratar de empresas exportadoras. É desconfiar de mais, a generalidade dos patrões é gente séria e não ia locupletar-se com valores tão altos. A questão, porém, é que 8% será uma pilhagem selvática da Segurança Social e a ameaça de um xeque-mate à sua sustentabilidade, um risco para o pagamento futuro das reformas a que os trabalhadores têm direito. É claro que para os quase dois mil continhos do senhor professor sempre o dinheiro há-de chegar nem que seja preciso ir buscá-lo a qualquer outro lado, a questão não é essa, o pior é que os das reformas baratinhas são muitos e desprotegidos. Já Pedro Passos Coelho, procurando minimizar os estragos que este Projecto Catroga pode provocar, afirmou que afinal talvez não transforme o senhor professor em ministro, mas «conta com ele». O povão interroga-se: para que contará Passos Coelho com Eduardo Catroga? E há quem sugira o seu reenvio para Harvard a título definitivo.

http://www.odiario.info/?p=2085

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