João Ramos de Almeida
De repente, Portugal tornou-se num país com uma situação social mais degradada. Fruto da nova metodologia seguida pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) no seu Inquérito ao Emprego, o número de empregos caiu e o desemprego subiu.
A taxa de desemprego saltou de 11,4 para 12,4 por cento. E subiu a fatia dos desempregados que procuram um novo emprego sem receber qualquer subsídio de desemprego. No primeiro trimestre de 2011, eram 54 por cento desse grupo quando no trimestre anterior eram tidos como sendo 48 por cento.
Ainda não se conhece inteiramente por que razão técnica os "novos" números do mercado de trabalho sofreram esta evolução. Mas possivelmente tem que ver com as lacunas dos números anteriores.
Em Janeiro passado, os responsáveis do INE já tinham alertado para as alterações. Apesar da perturbação que cria sempre uma quebra de série - por impedir a comparabilidade dos números históricos -, a alteração foi tida como "necessária", à semelhanças das ocorridas em 1983, 1992 e 1998. Alegou-se que era algo que já estava em estudo desde 2006 e que seria menos intrusivo para a vida das famílias inquiridas por ser feita por telefone. Isso reduziria os tempos de recolha e, por isso, diminuiria em 40 por cento os custos para o INE (800 mil euros anuais). Mas também uma melhoria das taxas de resposta: dos actuais 60-70 para 80 por cento.
Ontem, a nota do INE descreveu a nova metodologia: "A primeira entrevista é feita presencialmente e as cinco inquirições seguintes por telefone", quando a familía inquirida o autorizar. Nada mais muda, nomeadamente "os objectivos, periodicidade, amostra, esquema de rotações, classificações, conceitos e idade de referência da população activa".
Mas se assim é, como é possível que apenas uma forma diferente de inquirição à mesma amostra resulte numa descida de quase 80 mil pessoas empregadas (de 4945,7 para 4866 mil) e uma subida de 55,6 mil desempregados (de 633,3 mil para 688,9 mil), fazendo a taxa de desemprego saltar um ponto percentual? O INE não soube esclarecer esta dúvida do PÚBLICO. A resposta que enviou repetiu a metodologia descrita.
Recibos verdes são 129 mil
Quando é alterada a metodologia, verifica-se uma quebra da série histórica e os números deixam de ser comparáveis com os do passado. O INE comprometeu-se a assegurar a comparabilidade com os dados passados, mas ontem só foi fornecido o número de empregados, dos desempregados e a taxa de desemprego estimada com as duas metodologias. Por isso, apenas é possível traçar a nova fotografia do mercado de trabalho no primeiro trimestre de 2011.
Dos 5554,8 mil activos (menos 0,4 por cento que no mesmo período de 2010), havia 688,9 mil desempregados (mais 6,9 por cento de variação homóloga). Daqui resulta uma taxa de desemprego de 12,4 por cento, muito próxima já dos 13 por cento estimados pela Comissão Europeia para 2012.
A subida do número de desempregados situa-se sobretudo no escalão mais jovem. "Antes", no quarto trimestre de 2010, havia 95,5 mil desempregados até 24 anos; "agora", passou-se para 123,9 mil. A taxa de desemprego entre os jovens passou de 23 para 27,8 por cento. Mas o "novo" desemprego pesou também entre os desempregados com idades entre 35 e 44 anos - de 139,4 mil para 160,4 mil.
Os desempregados de longa duração são já 53 por cento do universo. Dos que procuram um novo emprego, são mais de 56 por cento os que o esperam há mais de um ano, mas apenas 46 por cento deles recebe subsídio de desemprego. Mas caso se conte com os que procuram um primeiro emprego, então apenas 31 por cento dos desempregados recebe subsídio. Haverá ainda que contar com 173,9 mil pessoas que gostariam de trabalhar mais horas. Esse "subemprego visível" situou-se em 3,6 por cento.
Mas a fotografia dos que tinham emprego não parece ter melhorado. Até 2010, os números estimados pela anterior metodologia mostravam que, de Junho de 2008 ao final de 2010, a crise "fechou" 262 mil postos de trabalho no sector não público, enquanto o emprego no Estado subiu até 42 mil pessoas. No primeiro trimestre de 2011, o emprego caiu 1,3 por cento face ao mesmo período de 2010.
Não há base de comparação, mas Portugal ainda era um país essencialmente de serviços. Mais de 62 por cento dos empregados trabalhavam nos serviços. A maioria estava no comércio (23 por cento), na educação (12,6 por cento), saúde e apoio social (11,6 por cento) e na administração pública (10,3 por cento). Havia apenas 17 por cento na indústria e 9,2 por cento na construção, contra dez por cento na agricultura e pescas.
A maior fatia - 62 por cento - tinha o ensino básico. A esses, soma-se os que tinham o ensino secundário - 19 por cento. A mão-de-obra jovem é diminuta - 6,6 por cento. A maior fatia tinha idades superiores a 45 anos - 41,8 por cento. Uma matriz de habilitações que não protege do desemprego.
Os trabalhadores por conta de outrem representavam 78 por cento do total de 4,866 milhões de empregados. Cerca de 22 por cento tinham um contrato a prazo. E, entre esses, havia 129 mil que eram prestadores de serviços (como os falsos recibos verdes).
Ainda não se conhece inteiramente por que razão técnica os "novos" números do mercado de trabalho sofreram esta evolução. Mas possivelmente tem que ver com as lacunas dos números anteriores.
Em Janeiro passado, os responsáveis do INE já tinham alertado para as alterações. Apesar da perturbação que cria sempre uma quebra de série - por impedir a comparabilidade dos números históricos -, a alteração foi tida como "necessária", à semelhanças das ocorridas em 1983, 1992 e 1998. Alegou-se que era algo que já estava em estudo desde 2006 e que seria menos intrusivo para a vida das famílias inquiridas por ser feita por telefone. Isso reduziria os tempos de recolha e, por isso, diminuiria em 40 por cento os custos para o INE (800 mil euros anuais). Mas também uma melhoria das taxas de resposta: dos actuais 60-70 para 80 por cento.
Ontem, a nota do INE descreveu a nova metodologia: "A primeira entrevista é feita presencialmente e as cinco inquirições seguintes por telefone", quando a familía inquirida o autorizar. Nada mais muda, nomeadamente "os objectivos, periodicidade, amostra, esquema de rotações, classificações, conceitos e idade de referência da população activa".
Mas se assim é, como é possível que apenas uma forma diferente de inquirição à mesma amostra resulte numa descida de quase 80 mil pessoas empregadas (de 4945,7 para 4866 mil) e uma subida de 55,6 mil desempregados (de 633,3 mil para 688,9 mil), fazendo a taxa de desemprego saltar um ponto percentual? O INE não soube esclarecer esta dúvida do PÚBLICO. A resposta que enviou repetiu a metodologia descrita.
Recibos verdes são 129 mil
Quando é alterada a metodologia, verifica-se uma quebra da série histórica e os números deixam de ser comparáveis com os do passado. O INE comprometeu-se a assegurar a comparabilidade com os dados passados, mas ontem só foi fornecido o número de empregados, dos desempregados e a taxa de desemprego estimada com as duas metodologias. Por isso, apenas é possível traçar a nova fotografia do mercado de trabalho no primeiro trimestre de 2011.
Dos 5554,8 mil activos (menos 0,4 por cento que no mesmo período de 2010), havia 688,9 mil desempregados (mais 6,9 por cento de variação homóloga). Daqui resulta uma taxa de desemprego de 12,4 por cento, muito próxima já dos 13 por cento estimados pela Comissão Europeia para 2012.
A subida do número de desempregados situa-se sobretudo no escalão mais jovem. "Antes", no quarto trimestre de 2010, havia 95,5 mil desempregados até 24 anos; "agora", passou-se para 123,9 mil. A taxa de desemprego entre os jovens passou de 23 para 27,8 por cento. Mas o "novo" desemprego pesou também entre os desempregados com idades entre 35 e 44 anos - de 139,4 mil para 160,4 mil.
Os desempregados de longa duração são já 53 por cento do universo. Dos que procuram um novo emprego, são mais de 56 por cento os que o esperam há mais de um ano, mas apenas 46 por cento deles recebe subsídio de desemprego. Mas caso se conte com os que procuram um primeiro emprego, então apenas 31 por cento dos desempregados recebe subsídio. Haverá ainda que contar com 173,9 mil pessoas que gostariam de trabalhar mais horas. Esse "subemprego visível" situou-se em 3,6 por cento.
Mas a fotografia dos que tinham emprego não parece ter melhorado. Até 2010, os números estimados pela anterior metodologia mostravam que, de Junho de 2008 ao final de 2010, a crise "fechou" 262 mil postos de trabalho no sector não público, enquanto o emprego no Estado subiu até 42 mil pessoas. No primeiro trimestre de 2011, o emprego caiu 1,3 por cento face ao mesmo período de 2010.
Não há base de comparação, mas Portugal ainda era um país essencialmente de serviços. Mais de 62 por cento dos empregados trabalhavam nos serviços. A maioria estava no comércio (23 por cento), na educação (12,6 por cento), saúde e apoio social (11,6 por cento) e na administração pública (10,3 por cento). Havia apenas 17 por cento na indústria e 9,2 por cento na construção, contra dez por cento na agricultura e pescas.
A maior fatia - 62 por cento - tinha o ensino básico. A esses, soma-se os que tinham o ensino secundário - 19 por cento. A mão-de-obra jovem é diminuta - 6,6 por cento. A maior fatia tinha idades superiores a 45 anos - 41,8 por cento. Uma matriz de habilitações que não protege do desemprego.
Os trabalhadores por conta de outrem representavam 78 por cento do total de 4,866 milhões de empregados. Cerca de 22 por cento tinham um contrato a prazo. E, entre esses, havia 129 mil que eram prestadores de serviços (como os falsos recibos verdes).
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