Cristina Krippahl em Colónia
Merkel aponta baterias ao Sul, em defesa da unificação das férias e da idade de reforma na UE. Os dados mostram que alemães saem beneficiados na comparação.
Um erro de cálculo da chanceler alemã abriu ontem uma frente de batalha entre Berlim e os países do sul. Frases como "na Grécia, Espanha e Portugal não se devia poder reformar mais cedo do que na Alemanha" ou "não podemos ter uma moeda única onde uns têm muitas férias e outros poucas" chegaram mais longe que a audiência doméstica da pequena cidade de Meschede, na Renânia do Norte-Vestefália, onde Angela Merkel discursava num acto de campanha.
A própria oposição alemã classificou de "disparate" e populismo as palavras da chanceler, o governo de Madrid rejeitou de imediato a proposta de Merkel unificar as férias e a idade de reforma na União Europeia (UE) e, em Portugal, o patronato aproveitou a dica para defender a redução do número de férias máximas no País.
Numa análise aos dados comparativos, as estatísticas da OCDE e do Eurostat mostram uma realidade bem diferente daquela que Merkel sublinhou. A média da idade de reforma em Portugal é superior à da Alemanha, apesar dos alemães terem introduzido, recentemente, o aumento faseado da idade da reforma de 65 para 67 anos até 2029. Além disso, ontem, os ‘cinco sábios', que aconselham o governo de Berlim, defenderam um novo aumento da idade da reforma para 69 anos.
Já em Portugal, a reforma de Segurança Social criou um mecanismo - o factor de sustentabilidade, em vigor desde 2008 - que liga a esperança de vida ao valor da pensão e foi a alternativa encontrada, diz o Executivo, para contornar o aumento da idade da reforma. Na prática, a opção é entre trabalhar mais ou ganhar uma pensão menor. Este ano, já é preciso trabalhar quatro a dez meses adicionais para evitar cortes. Independentemente do limite legal de 65 anos, em Portugal as mulheres reformam-se, em média, aos 63,6 anos, e os homens aos 67. Os números equivalentes na Alemanha são 60,5 e 61,8, respectivamente.
As mesmas estatísticas indicam ainda que são os alemães que têm mais dias de férias por ano: o mínimo legal é de 20 dias úteis, mas a grande parte dos contratos é regulada por acordos colectivos que prevêem entre 25 e 30 dias de férias, chegando mesmo a ultrapassar este marco. Em Portugal e na Espanha o mínimo legal é de 22 dias e na Grécia e Irlanda de 20. No entanto, em Portugal, as férias podem alongar-se até 25 dias, ainda que a maioria dos trabalhadores do Estado tenha um regime mais favorável, que pode ultrapassar 30 dias. Olhando para os feriados, Portugal conta mais dias do que a Alemanha.
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