Situação que pode regredir se a crise financeira obrigar a cortes, revela um estudo.
O estudo "'Desigualdades Sociais', da autoria do Instituto Superior de Economia e Gestão (ISEG) de Lisboa para a Fundação Francisco Manuel dos Santos, permitiu fazer duas constatações: Portugal é um dos países com maior nível de desigualdade da Europa e as desigualdades familiares têm diminuído.
"O primeiro resultado é a constatação de algo que já conhecíamos: somos o último ou o penúltimo no ranking dos países com maior desigualdade e se pensarmos numa Europa não a 27, mas a 15 somos indiscutivelmente o país mais desigual", adiantou, à Lusa, o coordenador do estudo.
Por outro lado, de acordo com o professor Carlos Farinha Rodrigues, "em termos das desigualdades familiares, tem-se registado nos últimos 10, 15 anos uma ligeira diminuição da desigualdade que no entanto não é suficiente para alterar a posição em termos europeus".
"Nós temos uma ligeira redução na desigualdade dos rendimentos das famílias, mas a manutenção de altos níveis de desigualdade salarial", constatou ainda Farinha Rodrigues.
De acordo com o coordenador do estudo, a explicação para este "comportamento dual" tem a ver com o facto dos indivíduos mais pobres terem vindo a ver a "sua posição melhorar, ainda que ligeiramente, e é isso que tem feito alguma pressão para a descida da desigualdade familiar".
Farinha Rodrigues apontou que um "elemento importantíssimo para a redução das desigualdades familiares têm sido as políticas sociais de apoio aos indivíduos mais desfavorecidos" e deixou um alerta caso a reacção à crise traga cortes nestes apoios.
"As políticas sociais foram concebidas para a redução da pobreza e a exclusão social, mas têm um efeito ligeiro sobre a desigualdade e tem sido esse um factor determinante na evolução da desigualdade. Se a forma de reagir à crise for em Portugal como foi noutros países a redução dos apoios sociais, eu penso que haverá a anulação deste efeito e provavelmente um aumento das desigualdades", avisou.
No caso das desigualdades salariais, o coordenador apontou que "os indivíduos que têm os salários mais altos têm sido o motor do agravamento das desigualdades".
Farinha Rodrigues disse que esta é uma situação que já vem desde "há vários anos" e que não tendo uma razão única, há vários factores que têm contribuído.
"Em primeiro lugar os fracos níveis de qualificação da sociedade. Não temos tido políticas direccionadas para a promoção da equidade. Outro aspecto é que o próprio funcionamento da nossa economia, o nosso modelo de crescimento, gera desigualdades", explicou.
Outro motivo está relacionado com "uma relativamente fraca abrangência do nosso sistema fiscal que deixa de fora uma série de rendimentos ligados à economia informal", acrescentou, ressalvando que esta é uma questão que precisa de um estudo mais
aprofundado.
aprofundado.
O estudo ‘Desigualdades Sociais' é apresentado amanhã no ISEG.
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