À procura de textos e pretextos, e dos seus contextos.

05/05/2011

Vender gato por lebre

Anabela Fino

Não é com vinagre que se apanham moscas ou há muita maneira de matar pulgas são ditos populares que os políticos ditos do «arco do poder» muito prezam. Nem é preciso ser-se particularmente assíduo de noticiários televisivos ou leitor atento das manchetes de jornais para se ter dado conta da profusão de promessas com que Coelho e Sócrates brindaram o eleitorado nos últimos dias. Pedindo meças ao mais experimentado feirante – simpático público, pelo preço módico de X leva não um, nem dois, nem três, nem quatro, mas cinco cobertores, mais este útil trem de cozinha, e este fabuloso alguidar de plástico e ainda um fantástico naperon para a sua sala... – ambos se desunharam em garantias, dizendo um que não despediria ninguém e outro que ninguém despediria; afiançando um que com ele não haveria cortes de salários e o outro a afiançar que consigo cortes de salários não haveria; e que as pensões assim a as pensões assado; mais o SNS e a escola pública; mais isto e mais aquilo. E tudo isto tendo como pano de fundo, qual casa do terror das feiras populares, o mais negro dos negros de todos os cenários relativos às imposições do FMI anunciados em todos os órgãos de comunicação. O desfasamento entre o prometido e o anunciado foi tamanho que até o professor Marcelo – alma pater dos comentadores de serviço – se viu obrigado a reconhecer o óbvio: se Coelho e Sócrates tanto prometiam ao arrepio das desgraças pré-anunciadas na imprensa era porque já sabiam que não seria por aí que os homens da troika nos iam pôr a canga. Ou seja, fizeram bluff, isto é levaram a demagogia ao ponto de tentar fazer crer que seria pela sua acção, enquanto putativos futuros governantes, que os portugueses seriam «poupados» ao pior dos males. Como se fossem eles, e não o FMI, a decidir alguma coisa sobre as políticas a desenvolver nos próximos anos em troca de um empréstimo que vai ser pago com língua de palmo pelos mesmos de sempre. Como se não fossem eles quem se acotovela para assegurar a possibilidade de serem os próximos executantes de tais políticas.
Em bom português, isto chama-se aldrabar o povo. Vender gato por lebre. E ainda aproveitar a pele para futuras manigâncias. Quanto ao essencial, o que de facto vai ser imposto ao povo e ao País, silêncio quase total. O FMI também já sabe que há muitas maneiras de matar pulgas.

http://www.avante.pt/pt/1953/opiniao/114512/

 

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