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07/03/2011

Subserviência e vassalagem

Honório Novo

Houve quem fizesse as contas: José Sócrates andou mais de 5500 km para ir falar 45 minutos com a Sr.ª Merkel. Veja-se só o que o Governo gastou, em viagens, ajudas de custo e outros trocos, para entrar por uma porta do gabinete da chanceler alemã e sair pela outra. Teria sido melhor aguardar em Lisboa o fax com a receita para aviar a solução dos mercados e dos grandes grupos para "a crise" em Portugal...
Sabemos bem o que é o Pacto para a Competitividade do directório franco-alemão: cortes nos custos salariais, despedimentos fáceis e baratos, aumentos da idade da reforma, menores valores das pensões, eliminação de direitos conquistados a pulso em longos anos de luta e de progresso social. É, sem surpresa, a agenda dos que visam aumentar margens de lucro (isto é, a competitividade), sempre à custa do desemprego, da contracção salarial e do corte de direitos sociais e laborais, enfim, do regresso aos primórdios do século passado.
Para colher a já esperada e subserviente adesão de Sócrates à agenda anti-social da porta-voz dos grandes interesses neoliberais, bastaria, pois, ter aguardado em Lisboa pelas ordens da chanceler. Para além de um acto de pura vassalagem (que deve ter feito com que Afonso Henriques tenha dado duas voltas na tumba), a viagem de Sócrates a Berlim não foi mais que tempo perdido e dinheiro mal gasto.
Nada mais contou neste tirocínio alemão de triste figura: nem a tentativa de impressionar Berlim com a disponibilidade de aumentar ainda mais a exploração dos portugueses e a extorsão do país (anunciada por Sócrates num debate da TSF com banqueiros), nem os dados parcelares de uma fantasmagórica execução orçamental de Fevereiro, soprados para amigos fiéis 18 dias antes da data prevista.

http://www.jn.pt/Opiniao/default.aspx?content_id=1800214&opiniao=Hon%F3rio%20Novo

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