Num sinal mais que óbvio de um imenso calculismo casado com uma flagrante cobardia, foi no dia a seguir às eleições e não na véspera ou antevéspera que se ficou a conhecer a indigna e revoltante proposta do governo para a alteração do regime das indemnizações por despedimento aplicável aos trabalhadores contratados após a entrada em vigor dessa nova lei.
A proposta do governo é verdadeiramente de bradar aos céus e há 10 ou 15 anos ninguém acreditaria que tal coisa passasse pela cabeça a alguém. As alterações propostas estão aqui no Público mas fique já aqui a informação que antiquíssima regra do mês por ano de trabalho é reduzida para vinte dias, que um trabalhar despedido ao fim de um ano deixa de ter direito a três meses de indemnização e que um trabahador despedido ao fim de 13, 20 ou trinta anos de trabalho teria direito a uma indemnização como se só tivesse trabalhado 12 anos.
Eu não tenho dúvida de quanto isto doeria a curto, médio ou longo prazo aos trabalhadores sujeitos a estes novas regras. Mas já tenho as maiores dúvidas que estas novas regras possam vir a significar, no conjunto de volume de negócios das empresas, uma poupança de encargos com algum significado, tirando talvez os seus donos poderem comprar mais algum Audi ou BMW.
E, se não estou equivocado, arrisco-me a conjecturar que esta alteração, para além de ser uma nova afirmação da vocação deste governo como capacho das orientações da OCDE, visa sobretudo sinalizar psicologica e ideológicamente junto das novas gerações de trabalhadores que tem de se habituar à ideia de que, nisto e em muitíssimo mais, não vão ter os direitos que gerações precedentes justa e corajosamente conquistaram.
Dito isto, talvez aqueles que se obstinam em ver a vida política num sistema de caixas fechadas, ao olharem para isto, devessem ver como são cínicos, esparvoados e aéreos os seus suspiros e apelos para uma «unidade de esquerda» (esquerda em que, atenção, eles incluem o partido do governo que assina por baixo estes revoltantes e infames retrocessos).
P.S.: Deliberadamente, e ao contrário de outros, nem sequer venho responder ao argumento governamental de que temos de acompanhar a Espanha lembrando o valor dos salários em Espanha e designadamente até do seu salário mínimo. Respondo apenas e só, forte e feio, que as desgraças impostas aos outros não podem ser farol que nos guie ou console.
P.S.: Deliberadamente, e ao contrário de outros, nem sequer venho responder ao argumento governamental de que temos de acompanhar a Espanha lembrando o valor dos salários em Espanha e designadamente até do seu salário mínimo. Respondo apenas e só, forte e feio, que as desgraças impostas aos outros não podem ser farol que nos guie ou console.
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