Pouco mais de três anos passaram desde o início da crise do subprime, mas os maiores bancos mundiais já se sentem outra vez em casa quando chegam a Davos.
Nas últimas duas edições do encontro organizado pelo Fórum Económico Mundial, os gigantes do sistema financeiro mundial estiveram extremamente discretos. E tinham motivos para isso. Em Janeiro de 2009, os bancos norte-americanos quase não apareceram, ainda em estado de choque com o quase colapso de todo o sector que ia sendo provocado pela falência do Lehman Brothers, três meses antes. Em Janeiro de 2010, o assunto mais debatido em Davos foi a imposição de um sistema de regulação financeira mais apertado, com mais controlo por parte dos Estados, forçando os bancos presentes a jogar sempre à defesa e sem dar muito nas vistas.
Agora, em 2011, multiplicam-se os sinais de que se vai começar já a assistir a um regresso aos bons velhos tempos. O tema central da edição deste ano de Davos fala da necessidade de adaptação do Globo a "uma nova realidade", mas, no que diz respeito à forma como vai decorrer o evento, o que parece estar a acontecer é mesmo o regresso a uma velha realidade.
Os líderes dos maiores bancos norte-americanos estão, outra vez, presentes em força, com quase todos os CEO a picarem o ponto. E sem problemas em mostrar-se ao resto dos participantes. O JPMorgan, que registou lucros recorde no ano passado, transferiu a recepção que faz a parceiros de negócios, clientes e membros de governos do discreto museu Kirchner para o piano bar do Hotel Europa, um dos mais concorridos de Davos. E, do Japão, o banco Nomura estreia-se este ano em eventos lançados em Davos.
Além disso, no programa oficial do encontro não constam desta vez painéis de discussão sobre a reforma do sistema de regulação financeira, depois de as grandes potências mundiais terem decidido deixar para 2015 a imposição de regras mais apertadas aos bancos, para evitar que estes enfrentassem ainda maiores problemas no curto prazo. E, assim, o ambiente de Davos vai ser mais acolhedor para aqueles que, em 2009 e 2010, eram vistos como os culpados da crise.
"Estamos outra vez a atravessar os mesmo ciclo, com mais ou menos os mesmos incentivos e estruturas de poder. Porque é que se haveria de esperar uma coisa diferente", disse à agência Bloomberg o economista norte-americano Simon Johnson, sobre este regresso à "normalidade" dos grandes bancos mundiais.
Crise de credibilidade
A maior confiança dos bancos, notória na forma como está a ser organizado o encontro de Davos deste ano, que hoje tem início, não significa contudo que tudo tenha voltado ao passado em Davos e na comunidade de negócios internacional.
Em primeiro lugar, a crise abalou claramente a imagem do evento. Em Davos, nunca se previu de forma clara a possibilidade de ocorrência de uma crise com estas dimensões. Este facto, para um evento que se tenta vender como o local onde se antecipam as grandes tendências do Globo, acarreta custos elevados. E este tipo de credibilidade não se recupera de um momento para o outro.
"Davos perdeu algum protagonismo. Até os ecos na imprensa são menos fortes do que antes", reconhece Carlos Tavares, presidente da CMVM, um dos portugueses que, no passado, estiveram presentes no encontro de Davos. "Houve sempre ali um pensamento demasiado liberal, demasiado, de que os mercados se auto-regulavam, e quando a crise mundial pôs em causa esses fundamentalismos o fórum perdeu alguma predominância. O fórum precisa de se ajustar à nova realidade", diz Mira Amaral, outro antigo participante.
Outra mudança fundamental de Davos, nos últimos anos, está expressa claramente no programa e na lista de participantes da edição deste ano: a cada vez maior importância das economias emergentes como a China, Índia e Brasil. Normas partilhadas para uma nova realidade é o tema escolhido pela organização do encontro, tendo como objectivo resolver um dos problemas que os decisores políticos e empresariais têm actualmente: a complexidade do mundo actual, onde as relações de poder estão a mudar a grande velocidade. A China, em particular, domina as discussões e o interesse dos participantes. Há quatro painéis de debate dedicados ao país e a lista de inscritos ultrapassa claramente a capacidade das salas. com Ana Rita Faria
Agora, em 2011, multiplicam-se os sinais de que se vai começar já a assistir a um regresso aos bons velhos tempos. O tema central da edição deste ano de Davos fala da necessidade de adaptação do Globo a "uma nova realidade", mas, no que diz respeito à forma como vai decorrer o evento, o que parece estar a acontecer é mesmo o regresso a uma velha realidade.
Os líderes dos maiores bancos norte-americanos estão, outra vez, presentes em força, com quase todos os CEO a picarem o ponto. E sem problemas em mostrar-se ao resto dos participantes. O JPMorgan, que registou lucros recorde no ano passado, transferiu a recepção que faz a parceiros de negócios, clientes e membros de governos do discreto museu Kirchner para o piano bar do Hotel Europa, um dos mais concorridos de Davos. E, do Japão, o banco Nomura estreia-se este ano em eventos lançados em Davos.
Além disso, no programa oficial do encontro não constam desta vez painéis de discussão sobre a reforma do sistema de regulação financeira, depois de as grandes potências mundiais terem decidido deixar para 2015 a imposição de regras mais apertadas aos bancos, para evitar que estes enfrentassem ainda maiores problemas no curto prazo. E, assim, o ambiente de Davos vai ser mais acolhedor para aqueles que, em 2009 e 2010, eram vistos como os culpados da crise.
"Estamos outra vez a atravessar os mesmo ciclo, com mais ou menos os mesmos incentivos e estruturas de poder. Porque é que se haveria de esperar uma coisa diferente", disse à agência Bloomberg o economista norte-americano Simon Johnson, sobre este regresso à "normalidade" dos grandes bancos mundiais.
Crise de credibilidade
A maior confiança dos bancos, notória na forma como está a ser organizado o encontro de Davos deste ano, que hoje tem início, não significa contudo que tudo tenha voltado ao passado em Davos e na comunidade de negócios internacional.
Em primeiro lugar, a crise abalou claramente a imagem do evento. Em Davos, nunca se previu de forma clara a possibilidade de ocorrência de uma crise com estas dimensões. Este facto, para um evento que se tenta vender como o local onde se antecipam as grandes tendências do Globo, acarreta custos elevados. E este tipo de credibilidade não se recupera de um momento para o outro.
"Davos perdeu algum protagonismo. Até os ecos na imprensa são menos fortes do que antes", reconhece Carlos Tavares, presidente da CMVM, um dos portugueses que, no passado, estiveram presentes no encontro de Davos. "Houve sempre ali um pensamento demasiado liberal, demasiado, de que os mercados se auto-regulavam, e quando a crise mundial pôs em causa esses fundamentalismos o fórum perdeu alguma predominância. O fórum precisa de se ajustar à nova realidade", diz Mira Amaral, outro antigo participante.
Outra mudança fundamental de Davos, nos últimos anos, está expressa claramente no programa e na lista de participantes da edição deste ano: a cada vez maior importância das economias emergentes como a China, Índia e Brasil. Normas partilhadas para uma nova realidade é o tema escolhido pela organização do encontro, tendo como objectivo resolver um dos problemas que os decisores políticos e empresariais têm actualmente: a complexidade do mundo actual, onde as relações de poder estão a mudar a grande velocidade. A China, em particular, domina as discussões e o interesse dos participantes. Há quatro painéis de debate dedicados ao país e a lista de inscritos ultrapassa claramente a capacidade das salas. com Ana Rita Faria
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