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22/07/2010

Portugueses passam férias em casa

Dois terços não vão ter férias. Quem tem a praia perto aproveita para quebrar a rotina sem gastar muito dinheiro.

Teresa e Augusto trocaram este ano as férias numa casa alugada em Peniche por "uns passeios" perto de casa e "umas viagens" até à Costa de Caparica para contentar Pedro, o filho de 3 anos. Uma decisão em nome da "contenção de custos", admite Teresa, desempregada. A maioria dos portugueses vai fazer o mesmo - segundo um estudo da consultora GfK, cerca de dois terços vão passar férias em casa este ano. Uma consequência da crise que já se sente quer nas agências de viagem quer no principal destino de férias do País, o Algarve.

"Nota-se uma quebra, que já vem do ano anterior, e que se deve à crise que vivemos. Nota-se, sobretudo, a procura por opções mais económicas", diz Paulo Brehm, porta-voz da Associação Portuguesa das Agências de Viagem e Turismo. No mês passado, o Algarve registou, pela primeira vez, uma diminuição na procura por parte de turistas portugueses, segundo a Associação dos Hotéis e Empreendimentos Turísticos da região.

Para Teresa e Augusto - ela desempregada, ele empregado bancário -, o mais económico é ficar por Samora Correia e aproveitar a casa de familiares na Costa de Caparica para ir até à praia. "Damos uns passeios pela nossa zona, vemos os cavalos. E vimos até à praia, que para ele é uma alegria", explica Augusto apontando para o filho. Em anos mais desafogados costumam ficar em Peniche. "Se pudéssemos íamos até Tenerife, [nas Canárias]. Já estivemos lá duas vezes e é mais barato do que muitos destinos em Portugal", explica.

Para cortar com a rotina do dia--a-dia, sem sair de casa, a família tem uma estratégia. "Não ligamos a televisão sem ser em canais de desenhos animados e música, e não ligamos o computador."

Para Odete Salgado, a forma de aproveitar os dias de férias que conseguiu tirar é passear e almoçar fora. "Trabalho por conta própria e consegui tirar uns dias para fazer companhia à minha filha, mas resolvemos ficar por cá", em Almada, conta. "Gastamos dinheiro na gasolina, num almoço que não fica em menos de 15 ou 17 euros, mas assim vamos dormir a casa", diz. A filha, Verónica, estava a trabalhar no estrangeiro, mas resolveu voltar no final da gravidez e por isso também vai abdicar das férias longe de casa. "Nos outros anos ia para o estrangeiro ou para o Algarve, mas este ano não dá. Aproveita-se a praia ao pé de casa."

"Crise é para os ricos, pobre é pobre", diz Andreia Pimentel enquanto compra bilhetes para o comboio que a vai levar a ela e às filhas da estação do Cais Sodré, em Lisboa, à praia de Santo Amaro de Oeiras. "Só porque eu a chateei", revela Cintia, a filha mais velha. A imigrante brasileira, empregada doméstica, está habituada a gerir um orçamento curto, diz, e por isso juntou um "pé-de-meia" para ir duas semanas até ao Algarve. "Vamos para Monte Gordo, de autocarro, vamos acampar", explica. Uma solução de compromisso para não ficar em casa as quatro semanas de férias, nem passar os dias nos transportes a caminho da praia.

E para quem está "sempre afogueada" com contas, como Adelaide Carvalho, empregada de limpeza, já não há espaço para férias há anos. "Os meus filhos vão com família para o Algarve, mas para eles irem fico eu em casa." Por isso, mesmo de férias, acorda cedo para sair de casa às 09.00 e apanhar a camioneta que a leva até ao Campo Grande, onde apanha o metro até o Cais Sodré para ir de comboio até à praia de Santo Amaro. E mesmo assim os euros da viagem pesam no orçamento, lamenta.

Do mesmo se queixa Manuel Morais. "O subsídio de férias já tem destino e não é para as férias. É para arranjar umas coisas em casa." O que sobra é para pagar os bilhetes dos transportes até à praia.

http://dn.sapo.pt/inicio/portugal/interior.aspx?content_id=1623659

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