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21/07/2010

Brasil - Bancos: baixos salários, discriminação e preconceito

Danilo Augusto
Os dados da quinta edição da Pesquisa de Emprego Bancário (PEB) pela Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT) e pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos Dieese, divulgados dia 12, mostram que no primeiro trimestre deste ano as instituições bancárias contrataram mais funcionários do que demitiram. Foram gerados exatos 2.840 novos postos de trabalho.
Os dados chamam atenção para alguns questionamentos. Por exemplo, como os banqueiros estão lucrando mais e gerando novos empregos? É fácil entender quando se analisa o documento divulgado. Essas novas “oportunidades” são maquiadas pela cobiça dos banqueiros, intensificando a exploração dos trabalhadores. E para aumentar seus lucros, usam novos elementos e artimanhas. Por exemplo, salários mais baixos para as mulheres e para os trabalhadores das regiões Norte e Nordeste.
Ainda, de segundo o estudo, foram admitidos 11.053 trabalhadores, contra 8.213 demissões. O detalhe são os novos salários que estão, em média, 37,85% inferiores em relação aos salários dos funcionários que foram desligados (R$ 2.197,79 contra R$ 3.536,38). Mas como entender isto se, no mesmo período em que os salários baixaram, os cinco maiores bancos do país (Itaú-Unibanco, Bradesco, Santander, Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal) lucraram, juntos, aproximadamente R$ 9,5 bilhões? Isso, sem contar os US$ 20 bilhões lucros obtidos em 2009. Como se não bastasse, os banqueiros sempre foram agraciados com dinheiro público para “salvar” as corporações financeiras privadas em tempos de crise.
Estes 2.840 empregos gerados, se comparado com outros setores da economia, representam apenas 0,43% dos 657.259 novos postos de trabalho criados no país no mesmo período, segundo os dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged). Ou seja, número muito abaixo do esperado, levando-se em consideração o aumento real nos lucros dos bancos.
O fato é que esta política trabalhista-salarial é discriminatória e preconceituosa principalmente em relação às mulheres. Só para se ter ideia, nesse novo grupo (dos 11.053 contratados) a remuneração média para o sexo feminino corresponde a uma diferença de 32,71% inferior à remuneração do homem. Em média, elas recebem R$ 1.770,20, enquanto os admitidos do sexo masculino recebem o equivalente a R$ 2.630,59. O mais grave é que está diferença era menor entre aquelas que foram desligadas do trabalho. As trabalhadoras saíram do banco com salário médio de R$ 2.865,56, valor 30,31% inferior ao recebido pelos homens, que era de R$ 4.112,04. Este dado reforça a urgência de uma campanha de valorização profissional da mulher bancária em nosso país.
Mas não é só isso. Nada é tão discriminatório quanto à política salarial para os trabalhadores das regiões Norte e Nordeste. As diferenças nos números (de contratações) e valores (salariais) são mais evidentes e gritantes se comparadas às outras regiões. Coincidência ou não, essas são as regiões brasileiras menos favorecidas economicamente, apresentam taxas de desemprego acima da média nacional. Senão, vejamos os números de contratações dessas regiões: dos 11.053 contratados, essas regiões, juntas, geraram apenas 252 novos postos de trabalho. Foram 111 para o Norte e 151 para o Nordeste. O pior é que essas regiões registram a maior queda salarial entre os admitidos e os demitidos. No Norte, os admitidos entraram recebendo 47,57% menos dos demitidos. Ou seja, salário de admissão: R$ 1.371,52; demissão: R$ 2.615,89. No Nordeste a redução salarial foi um pouco menor, mas muito considerável. Os que entraram estão recebendo 44,32% menos do que os que saíram (entraram com R$ 1.639,09, saíram com R$ 2.943,79).
É verdade que existem muitos outros problemas que assolam os bancários de todo o país. Por exemplo, a questão do assédio moral, a excessiva pressão por metas etc. Assim como é verdade que essa política de exploração dos banqueiros ganha fôlego frente ao desemprego que atinge 7,5% da classe trabalhadora.
Nesse sentido, é urgente lutar. O momento exige que os sindicatos mobilizem suas bases. É preciso organizar os trabalhadores para pressionar os banqueiros, esses parasitas da sociedade. O momento é propício, pois a data-base da categoria é 1º de setembro. Somente assim será possível avançar na luta e conquistar melhores condições de vida e trabalho para os bancários de todo o país.

http://www.brasildefato.com.br/v01/agencia/analise/bancos-baixos-salarios-discriminacao-e-preconceito/view

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