À procura de textos e pretextos, e dos seus contextos.

01/04/2010

A SAPar

Henrique Custódio

A ministra da Saúde arrecadou o sorriso e reacendeu a guerra contra o horário nocturno dos Serviços de Atendimento Permanente (SAP), encerrando mais quatro de uma assentada – os de Valença, Melgaço, Paredes e Arcos de Valdevez, no Alto Minho, que se juntam ao de Santa Comba Dão, desactivado em Fevereiro último. Com este lote de cinco, ascendem a cerca de 40 os SAP nocturnos desarticulados desde 2005, quando o antecessor da dra. Ana Jorge, o inefável Correia de Campos, iniciou a sua reforma na Saúde assente na extraordinária tese de fechar serviços para os melhorar. O resultado foi a sua demissão, empurrado pelo coro de protestos que varreu o País, o que aparentemente não perturba a actual titular, apesar de em Janeiro de 2008, na sua tomada de posse, se afirmar decidida a pacificar o sector da Saúde.
Dois anos depois a sua decisão parece realinhar-se pela do antecessor, ou seja pela política de Sócrates de ir desmantelando o SNS através de «melhorias» sucessivas.
Estamos lembrados de como a socrática «reforma da Saúde» evoluiu: começou por destruir os subsistemas que complementavam o SNS (dos jornalistas, dos bancários, das forças militares e militarizadas, etc.) sob a vergonhosa invocação do «justo nivelamento» do acesso à Saúde... nivelando-o por baixo, sem apoios a quem quer que seja. Seguiu-se a entrega progressiva da Saúde ao negócio capitalista, quer através de «parcerias público-privadas» onde os investimentos são públicos e os lucros privados, quer por intermédio de uma teia de protocolos, parcerias, acordos e todo o tipo de «prestação de serviços», onde o Estado vai pagando balúrdios por trabalhos hospitalares que podia e devia ele próprio executar. Para concluir, os médicos e os enfermeiros foram sendo tenazmente reduzidos e desvalorizados, desembocando-se na actual crise de debandada destes profissionais do SNS para os negociantes privados da Saúde, que finalmente os subalugam ao Estado... e a peso de ouro.
O encerramento de unidades ou valências do Serviço Nacional de Saúde completa o quadro. Foi assim que encerraram maternidades, urgências e horários nocturnos dos SAP, sempre em nome de «melhor serviço» e da «racionalização dos recursos».
Por isso a ministra Ana Jorge, quando agora decidiu reactivar a ofensiva de Correia de Campos contra os SAP, apresentou de carreirinha os argumentos do costume: tudo foi «cuidadosamente estudado», só fecham os SAP com «menos de 10 doentes/noite» e as dezenas de milhares de utentes que ficam repentinamente sem SAP nocturnos serão transportados por uma «eficaz rede de ambulâncias com suporte-vida» para o «hospital mais adequado».
Isto apresentado como «uma melhoria» para os utentes - o serem transportados dezenas ou centenas de quilómetros para serem atendidos numa urgência hospitalar longínqua e superlotada, em vez da segurança, da eficácia e do conforto do atendimento perto de casa.
Naturalmente, as populações de Valença e do Alto Minho levantaram-se em peso contra o encerramento dos SAP, enquanto a ministra insiste que «estão mal informados».
O seu antecessor, Correia de Campos, também dizia o mesmo, quando afinal ele é que estava mal informado, no seu trabalho de SAPa...

http://www.avante.pt/noticia.asp?id=33091&area=29

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