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01/04/2010

Corrupção na Roménia e Grã-Bretanha: Políticos taxi

Na Roménia, pela primeira vez um senador vai ser julgado por corrupção. Na Grã-Bretanha, três antigos ministros trabalhistas foram apanhados numa experiência jornalística. Um deles disse: «sou de aluguer, como um taxi».

O jornal Le Monde relatou no domingo, 27, que o senador socialista, Catalin Voicu, sofreu um ataque cardíaco após os seus pares terem levantado a sua imunidade parlamentar para ser julgado. O choque foi grande para Voicu, pois nunca tal tinha acontecido desde que o capitalismo voltou a ser instaurado na Roménia e a corrupção se tornou regra no país.
Voicu é acusado de tráfico de influências, nada de invulgar naquele paraíso dos homens de todos os negócios. Especializou-se em interceder junto de altos magistrados e altas patentes da polícia para livrar de apuros os prevaricadores mais ousados.
Os seus serviços eram muito procurados e bem remunerados. Entre Julho e Setembro de 2009 salvou dois empresários de aborrecimentos. O último deles chamava-se Costel Casuneanu, que se prontificou a pagar 260 mil euros pelo favorzinho.
Voicu ficou radiante: «Não se pode perder este negócio. Não é todos os dias que se apanha uma tal soma», disse ao magistrado seu cúmplice, Florin Costiniu, juiz do Supremo Tribunal de Justiça, com quem se encontrou secretamente para resolver a questão.
Só que o encontro estava sob escuta da Procuradoria Nacional Anticorrupção (DNA), entidade que desde há vários meses seguia as actividades de Voicu. A investigação entregou um volumoso dossier ao Parlamento requerendo o levantamento da imunidade parlamentar. Poucos dias depois, a imprensa publicou as conversas gravadas para escândalo do povo que vive com salários e pensões de miséria. O dossier revelou um sistema mafioso instalado nas instituições do Estado. Há nomes, métodos e tarifas especificados.
Mas isso não parece ser suficiente. Em 2009, o DNA acusou 244 altos responsáveis, onde se incluem o antigo primeiro-ministro, Adrian Nastase, vários presidentes de câmara, juizes e polícias. Todos estes casos arrastam-se na justiça sem um fim à vista e o mais provável é que a maioria dos acusados nunca chegue a ser julgada, como indirectamente reconhece a própria Comissão Europeia num relatório divulgado dia 23: «Os atrasos são patentes nos processos de corrupção a alto nível».

Três ex-ministros de aluguer

Mas a provar que a corrupção não é uma especificidade do capitalismo dos países do Leste Europeu, também na «civilizada» Grã-Bretanha os escândalos de corrupção sucedem-se a um ritmo alucinante. O mais recente foi provocado por uma armadilha montada por dois órgãos de imprensa. Três ex-ministros foram apanhados.
Os jornalistas fizeram-se passar por representantes de uma empresa que procuravam políticos disponíveis para defender os seus interesses junto do governo. Geoff Hoon, ex-ministro da Defesa, Stephen Byers, ex-ministro dos Transportes, e Patricia Hewitt, ex-ministra da Saúde, mostraram-se disponíveis e fixaram os seus preços.
Segundo as conversas gravadas e transmitidas, dia 22, no programa «Dispatches» da estação Channel Four, Byers foi solícito, mas avisou que os seus «serviços» poderiam custar até cinco mil libras (5 600 euros) por dia.
Sem rebuço, disse aos seus interlocutores: «Sou de aluguer, como um taxi». E fez questão de mostrar que já tinha currículo na actividade, ignorando que uma câmara escondida registava os seus feitos para a eternidade. Byers disse então que já tinha intercedido com sucesso junto de membros do governo a favor do transportador National Express e dos supermercados Tesco.
Geoff Hoon e Patricia Hewitt mostraram-se mais comedidos, pedindo «apenas» três mil libras por dia. Hoon não hesitou em dizer que está disposto a pôr o seu livro de endereços e os conhecimentos na esfera governamental ao serviço de «qualquer coisa que dê muito dinheiro».
Embora o lobbing seja legal na Grã-Bretanha e muitos tentem apresentá-lo como uma actividade legítima, a crueza destas declarações caiu mal na direcção trabalhista, ainda não refeita do escândalo das facturas de despesas abusivas que arrasou a sua bancada parlamentar.
Os três ex-ministros, que não sendo candidatos às próximas eleições andam à procura de emprego, foram de imediato suspensos do partido e condenados publicamente pelo seu líder Gordon Brown. Mas o seu maior crime terá sido exporem na sua nudez a verdadeira essência do tráfico de influências inerente ao capitalismo e a falta de princípios que caracteriza a generalidade dos políticos burgueses.

Vaga de protestos

Milhares de professores manifestam-se dia 25 na capital da Roménia contra os cortes orçamentais no sector, que prevêem a redução de postos de trabalho e a diminuição do poder de compra. No estandarte lê-se: «Mensagem aos políticos: vão para casa! Deixem a educação aos professores!». Dois dias depois, no sábado 27, milhares de pensionistas saíram à rua em várias cidades do país num protesto contra as pensões de miséria. Mais de três milhões de idosos romenos auferem pensões inferiores a mil lei (250 euros), apesar de o mínimo de sobrevivência se situar nos 1300 lei. Esta situação é agravada pela nova lei da saúde que obriga os utentes a pagar as consultas na rede pública. Nas acções vários participantes evocaram o passado socialista, ostentando retratos do antigo líder Ceausescu.

http://www.avante.pt/noticia.asp?id=33040&area=8

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