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01/04/2010

Por melhor repartição da riqueza produzida: Em greve e com razão

Na Galp Energia, nas minas de Neves-Corvo e da Panasqueira, na Kemet e na Cel-Cat, os trabalhadores decidiram entrar em greve, exigindo aumentos salariais justos, melhor compensação pelo esforço de quem cria a riqueza e que esta seja distribuída com menor injustiça.

Nos plenários realizados durante a semana passada, nas refinas de Sines e do Porto e na sede da Galp Energia, em Lisboa, foi reafirmada a decisão, já antes admitida, de avançar para a greve, uma vez que a empresa não deu passos concretos a comprovar que levava em conta os protestos anteriores. Sem negar que no ano findo os resultados do grupo tiveram uma redução, face a 2008, a Comissão Sindical Negociadora salientou que, mesmo assim, os trabalhadores têm motivos para «indignação», perante a recusa da administração em responder às reivindicações. A CSN (constituída pelo Sinquifa e o Sinorquifa, sindicatos da Fiequimetal/CGTP-IN) referiu, por exemplo, que a Galp Energia obteve lucros, em 2009, no valor de 213 milhões de euros, enquanto os lucros acumulados nos últimos cinco anos atingem 2135 milhões de euros.
Na última reunião, antes dos plenários de dias 23, 24 e 26 de Março, a administração mudou a sua proposta salarial de 1,2 para 1,3 por cento, para os salários inferiores a dois mil euros, e continuou a não assumir compromisso quanto à distribuição de lucros relativos a 2009. Os trabalhadores exigem uma actualização salarial de 2,8 por cento, com um aumento mínimo de 55 euros, e que a repartição de lucros se mantenha, pelo menos, proporcional ao ano anterior.
A greve na Petrogal e demais empresas do grupo vai ser convocada para os dias 19, 20 e 21 de Abril, antecedida de dois dias de recusa de trabalho extraordinário.
Na General Cable Cel-Cat, em Morelena (Sintra), a greve de 25 de Março abrangeu todo o período de trabalho e teve mais de 90 por cento de adesão, nível semelhante ao atingido na anterior paralisação, a 26 de Fevereiro. Os trabalhadores exigem um aumento salarial de três por cento, com efeitos ao primeiro dia do ano, mas a administração pretendeu fixar o valor em 0,8 por cento. Inicialmente, recorda o SIESI/CGTP-IN, a multinacional inglesa nem pretendia aceitar qualquer actualização dos salários.
No âmbito da revisão do Acordo de Empresa, o sindicato e os trabalhadores têm salientado que o argumento da «crise internacional», esgrimido pela administração, é desmentido pelos 3,5 milhões de euros de lucros, registados em 2009, a par de uma ampla carteira de encomendas e uma sólida situação financeira.
Igualmente com muito elevada adesão, superior a 90 por cento e que chegou a atingir 95 por cento, estiveram em greve, nos primeiros quatro dias da semana passada, os trabalhadores da Kemet Electronics, em Évora. Responderam, parando nas duas primeiras horas de cada turno, à decisão da administração de suprimir o pagamento do subsídio de turno e do trabalho nocturno - o que, em média, provocará um rombo de cerca de 30 por cento na remuneração mensal.
João Oliveira, deputado do PCP eleito pelo distrito, e dirigentes comunistas locais e regionais, estiveram com os trabalhadores a 25 de Março, último dia desta série de greves - cuja continuação deveria ser analisada esta semana, em plenário. Na Assembleia da República já tinha sido apresentada pelo Partido uma pergunta à ministra do Trabalho, sobre a situação naquela fábrica, notando que a Kemet tem beneficiado de acordos de investimento com o Estado, mas sem criação de postos de trabalho nem respeito pelos direitos dos operários. Em 2007 foram despedidos mais de 200 trabalhadores e não são aumentados os salários há três anos.
Numa saudação que divulgou também no dia 25, o Executivo da Direcção Regional de Évora do PCP lembra ainda que não são respeitados outros direitos (como as férias, limitadas a 16 dias úteis, em vez dos 22 reconhecidos legalmente, ou como a aplicação ilegal e abusiva de lay-off). A multinacional, afirma a DOREV, tem «a clara certeza» de que, com o actual Governo, possui «tempo e espaço político para tomar tais decisões».
Mantendo uma elevada adesão à greve, de duas horas por turno, iniciada a 16 de Fevereiro, os mineiros de Neves-Corvo (Castro Verde) receberam, terça-feira à noite, a solidariedade do secretário-geral do PCP e uma delegação ia deslocar-se ontem, ao fim da manhã, à Presidência da República, para saber que diligências terão já sido feitas no sentido da resolução do conflito com a administração da Somincor. A posição dos trabalhadores e do seu sindicato tinha sido transmitida a Cavaco Silva, quando este esteve, dia 13 de Março, em Almodôvar.
Em causa está a tentativa da multinacional Lundin Mining (que decidiu alienar a Pirites Alentejanas, em Aljustrel, mas manteve a lucrativa Somincor) de deixar de pagar na íntegra a compensação pecuniária pelo trabalho realizado no Dia de Santa Bárbara. Os trabalhadores reclamam ainda um aumento de cem euros no «subsídio de fundo», que procura compensar a penosidade da laboração a 700 metros de profundidade.
No dia 24 de Março, a greve nas minas da Panasqueira (Serra do Açor, Covilhã) teve índices de adesão sempre superiores a 90 por cento, nos três turnos. Os trabalhadores reclamam um aumento salarial mínimo de 50 euros e, como referiram dirigentes sindicais, citados pela agência Lusa, ficaram extremamente indignados com a intransigência da Sojitz Beralt, que não apresentou qualquer proposta para negociação. Aos alegados prejuízos, contrapõem os planos para aumento da produção, em quase 50 por cento, e ainda a valorização do dólar face ao euro.

http://www.avante.pt/noticia.asp?id=33096&area=4

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