À procura de textos e pretextos, e dos seus contextos.

04/03/2010

Quem sabe, sabe!

João Frazão

A notícia, num programa de negócios e economia de uma rádio nacional, rezava mais ou menos assim: os Hotéis Marriott, numa prova de grande dinâmica empresarial e de sério compromisso e empenhamento social, já garantiram 50 estágios este ano. E para a ilustrar, aparecia a voz de um dos administradores dizendo que assim a cadeia terá uma vasta mão de obra com experiência para escolher. E aos jovens é oferecida a oportunidade de lidar directamente com o mundo do trabalho real. Só vantagens, portanto.
A curiosidade levou-me a uma ligeira pesquisa sobre o assunto. E de facto encontrei com facilidade a informação.
Os Hoteis Marriott têm vários anúncios a oferecer estágios nos seus hotéis em Portugal. Seja para a preparação de eventos, para a cozinha ou para o Restaurante/Bar. Seja até para a Gestão de Recursos Humanos.
Requerem fluência em Inglês (o que é óbvio tendo em conta o sector de que falamos); elevado sentido de responsabilidade (o que também se entende sabendo que se trata de unidades de 5 estrelas). Querem ainda pessoas fléxiveis, energéticas e com bom relacionamento interpessoal (sim, que estas oportunidades são só para os melhores).
Mas quem quiser garantir esta oportunidade de trabalho em contexto real, com brilhantes perspectivas de progressão na carreira tem que ter disponibilidade imediata, confidencialidade e capacidade de trabalhar sob pressão e ainda capacidade de realizar tarefas minuciosas e detalhadas.
E, ao fim do mês, o Marriott retribui com refeições gratuitas no hotel (viva o luxo!), ao licenciado que trabalhar 4h por dia, e ainda dá a choruda bolsa de 400€ àquele que trabalhe 8 horas por dia.
Em conclusão, após o louvor público das entidades responsáveis pelo empreendedorismo demonstrado, estou convencido que ainda esperam que estes jovens agradeçam por trabalhar de borla, ocupando postos de trabalho permanentes, para uma das maiores cadeias de hotéis do Mundo, que fechou 2009 com 3420 estabelecimentos no mundo inteiro, ou seja mais 242 que em 2008.
E assim se fazem os caminhos da precariedade. A que se dá também o nome de exploração!
Quem sabe, sabe!

http://www.avante.pt/noticia.asp?id=32716&area=25

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