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04/03/2010

Portugal tem os níveis de mobilidade intergeracional mais baixos da OCDE

França, países do Sul da Europa, Reino Unido e EUA registam as mobilidades sociais mais reduzidas. A informação consta do relatório Going for Growth 2010 publicado pela OCDE, mais concretamente do capítulo V, A Family Affair: Intergenerational Social Mobility Across OECD Countries. Nele é analisada a mobilidade social entre gerações, com destaque para os rendimentos e qualificações escolares.

Segundo o relatório da OCDE, Austrália, Canadá e os países do norte da Europa apresentam, tendencialmente, as maiores oportunidades para a ocorrência de mobilidade social. Nestes países as posições relativas no mercado de trabalho têm uma menor persistência entre gerações, ou seja, as características socioeconómicas das famílias têm uma influência mais reduzida no desempenho escolar e rendimentos dos seus descendentes.

Portugal, por outro lado, é o país da OCDE em que a imobilidade entre gerações atinge os valores mais elevados, quando se analisam os salários. De facto, a disparidade entre os rendimentos de um indivíduo do sexo masculino cujo pai tenha atingido o ensino superior e de outro cujo progenitor não tenha ido além do 3º ciclo do ensino básico situa-se nos 66,9%. No caso das mulheres, este indicador regista um valor menor, 60,2%, sendo, contudo, o segundo mais elevado dos países em análise. É assim perceptível que em Portugal, Espanha, Itália e também, no caso dos homens, no Reino Unido a situação socioeconómica da família de origem (aqui aferida através da escolaridade do pai) tem uma forte influência nos rendimentos dos indivíduos, o que indica níveis baixos de mobilidade social.

O relatório da OCDE destaca ainda como fundamental para a compreensão dos processos de mobilidade social, a persistência das qualificações escolares entre gerações. Em todos os países em análise registou-se o mesmo padrão no que respeita ao ensino superior: a probabilidade de atingir este grau de ensino é significativamente mais elevada para os indivíduos cujos pais obtiveram esta qualificação, quando comparados com aqueles que são oriundos de famílias com níveis de qualificação correspondentes ao ensino secundário ou ao 3º ciclo do ensino básico. Luxemburgo, Irlanda e Itália registam os maiores níveis de persistência no ensino superior, enquanto a França, a Dinamarca e a Austrália apresentam os indicadores de mobilidade educacional mais elevados. Portugal é o sexto país com melhor registo neste indicador, se bem que apresenta uma forte disparidade entre homens e mulheres: 37,1% e 52,4%, respectivamente, de diferença na probabilidade de atingir o ensino superior entre indivíduos cujo pai detém este grau de ensino e aqueles cujo progenitor completou, no máximo o 3º ciclo do ensino básico.

Por outro lado, no que respeita à persistência no 3º ciclo do ensino básico, medida através da distância entre a probabilidade de atingir, no máximo, este grau de ensino para um indivíduo cujo pai tem este nível de escolaridade e para outro cujo pai detém o ensino superior, Portugal volta a ocupar o lugar mais desfavorável, a par da Itália e Espanha, revelando baixos níveis de mobilidade intergeracional neste domínio.

De referir ainda que, na maioria dos países analisados, níveis mais elevados de mobilidade entre gerações surgem associados a sociedades com menores desigualdades sociais. De facto, principalmente nos países nórdicos, que apresentam um menor grau de desigualdade social (medida, no Gráfico 2, através do Coeficiente de Gini), a persistência salarial entre gerações tende a ser, também, mais reduzida. Por outro lado, Portugal, Reino Unido e Itália são os países com, simultaneamente, maiores níveis de desigualdade e de persistência salarial intergeracional.


http://observatorio-das-desigualdades.cies.iscte.pt/index.jsp?page=news&id=82

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