Portugueses vão continuar a abandonar o mercado de trabalho, o que ajudará a estabilizar a taxa de desemprego nos 9%. Bruxelas prevê tímida melhoria a partir de 2011.
A queda da população activa - que acontece quando trabalhadores e desempregados abandonam o mercado de trabalho - vai amortecer a subida do desemprego em Portugal. É esta a tese da Comissão Europeia, que ontem reviu em baixa as suas previsões para o desemprego, afastando o cenário de uma taxa de dois dígitos. O mesmo relatório revela, porém, que só em 2011 a economia deverá voltar a criar emprego em termos líquidos, e ainda assim a um ritmo incapaz de compensar as perdas destes dois anos.
Bruxelas espera que Portugal perca 118 mil postos de trabalho este ano e mais 22 mil no próximo. A recuperação do mercado de trabalho começará a chegar, de forma tímida, em 2011, altura em que a economia deverá crescer 1% e criar, em termos líquidos, cinco mil empregos (ver gráfico) .
Em três anos, haverá menos 75 mil pessoas disponíveis para trabalhar. "O aumento da taxa de desemprego será amortecido pela queda na participação no mercado de trabalho", escrevem os autores do European Economic Forecast, ontem divulgado. O novo cenário central, revisto em baixa, aponta, assim, para a subida da taxa de desemprego, de 7,7% em 2008 para 9% este ano. Um valor que deverá estabilizar em 2010, antes de registar uma ligeira redução em 2011 (8,9%). Em termos médios anuais, o número de desempregados deverá ficar abaixo de meio milhão de pessoas (494,8 mil este ano).
Sem se referir explicitamente às previsões da Comissão Europeia, a nova ministra do Trabalho, Maria Helena André, reconheceu ontem publicamente que o desemprego será uma preocupação central nos próximos anos. "As medidas decididas pelo Governo para fazer face à crise económica começam a fazer efeito", afirmou, numa seminário organizado pelo Gabinete de Estudos e Planeamento (GEP) do Ministério do Trabalho. "O problema de altos níveis de desemprego vai-nos acompanhar durante alguns anos, independentemente de alguma recuperação económica", acrescentou, numa intervenção em que defendeu a inclusão das questões relacionadas com o "emprego verde" na Estratégia de Lisboa.
"O cenário manter-se-á mais ou menos inalterado, o que é péssimo", refere Pedro Adão e Silva, comentando as novas previsões de Bruxelas. "Acho que esta estabilização dos dados coloca uma enorme pressão sobre a protecção social no desemprego e sobre as medidas que foram criadas e que são, à partida, temporárias", acrescenta o sociólogo.
As previsões da Comissão Europeia são mais optimistas do que a das OCDE e do FMI, que esperam taxas de desemprego de dois dígitos no próximo ano.
A avaliar pelas previsões de Bruxelas, a taxa de desemprego em Portugal deverá este ano ficar abaixo da média da Zona Euro (9,5%) e da União Europeia.
Mas há riscos, sublinha a Comissão Europeia. "Se a incerteza permanecer, as reestruturações sectoriais forem mais significativas ou se os salários não se ajustarem, as taxas de desemprego poderão ser mais elevadas", afirmam.
D.N. - 04.11.09
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