O desemprego é actualmente o problema mais grave em Portugal. No entanto, o governo parece indiferente à gravidade da situação, pois pouco tem feito para reduzir os seus efeitos a nível de quem é atingido pelo desemprego. A prová-lo está o facto de que continua a recusar alargar o subsidio de desemprego, e não o subsidio social de desemprego como fez ( e foi só a 20.000 desempregados), a mais desempregados. Esta insensibilidade
Perante o comportamento deste governo não é demais voltar novamente ao problema do desemprego em Portugal, porque os números oficiais ainda não traduzem a verdadeira realidade. E isso é preciso que chegue à opinião pública para obrigar este governo a tomar medidas de apoio a esses desempregados. É necessário tornar ainda mais visível a gravidade da situação.
OS NUMEROS OFICIAIS DO INE E DO IEFP NÃO TRADUZEM A VERDADEIRA DIMENSÃO DO DESEMPREGO EM PORTUGAL
O
De acordo com os “Conceitos”constantes das “Estatísticas do Emprego” divulgadas trimestralmente pelo INE, um desempregado para ser incluído no número oficial de desempregados é necessário que “tenha procurado um trabalho, isto é, tenha feito diligências ao longo de um período especificado (período de referência ou nas três semanas anteriores) para encontrar um emprego remunerado ou não”. Portanto, se um desempregado não procurar trabalho na semana em que foi realizado o inquérito (período de referência) ou nas três semanas anteriores já não é incluído no número oficial de desemprego. E de acordo com o INE, no 2º Trimestre de 2009, existiam 64,2 mil desempregados nesta situação (os chamados “inactivos disponíveis”) que não foram considerados no numero oficial de desempregados divulgados pelos órgãos de informação.
Por outro lado, e também segundo os “Conceitos” do INE, que constam da publicação que ele divulga trimestralmente, é considerado como estando empregado aquele que tenha “”efectuado um trabalho de pelo menos uma hora, mediante o pagamento de uma remuneração ou com vista a um beneficio ou ganho familiar em dinheiro ou géneros”. Portanto, existe muita gente considerada como empregada, e por isso não está incluída nos números oficiais de desemprego, apesar de estar efectivamente desempregada E de acordo com o INE existiam, no 2º Trimestre de 2009, 63,3 mil desempregados (o chamado “subemprego visível) que também não foram considerados no número oficial de desempregados.
Se somarmos ao número oficial de desempregados no 2º Trimestre de 2009 – 507,7 mil – estes dois valores ( 64,2 mil mais 63,3 mil divulgados também pelo INE) o número de desempregados sobe de 507,7 mil para 635,2 mil, e taxa de desemprego aumenta de 9,1% para 11,2% no 2º Trimestre de 2009..
NOS PRIMEIROS SETE MESES DE 2009 JÁ FORAM ELIMINADOS DOS FICHEIROS DOS CENTROS DE EMPREGO 303.662 DESEMPREGADOS QUE O IEFP PROCURA OCULTAR
O IEFP utiliza técnicas diferentes para reduzir o numero de desempregados registados nos Centros de Emprego, e para ocultar essa eliminação.
Apesar da maior parte dos media fazer passar os números divulgados pelo IEFP como reflectindo o desemprego em Portugal, isso não corresponde à verdade O numero oficial de desempregados divulgado pelo IEFP não abrange a totalidade dos desempregados. Apenas inclui aqueles que se inscreveram nos Centros de Emprego. Portanto, se um desempregado não se inscrever ou se for eliminado dos ficheiros dos Centros de Emprego já não consta do numero que é divulgado mensalmente pelo IEFP. E muitos que se inscrevem têm sido eliminados mensalmente dos ficheiros dos Centros de Emprego pelo IEFP como se provará.
O quadro seguinte, construído com dados publicados pelo IEFP no período que vai de Dezembro
QUADRO I – Dados sobre o número de desempregados que se inscrevem mensalmente nos Centros de Emprego, sobre o número de colocações conseguido por estes e sobre o numero de desempregados divulgados mensalmente pelo IEFP
DATA | Nº Total de desempre-gados divulgados pelo IEFP em cada mês | Nº de desemprega-dos que se inscreveram em cada mês nos Centros de Emprego | Nº de desempregados colocados pelos Centros de Emprego | Nº de desemprega- dos não colocados relativamente aos inscritos no mês | Desempregados eliminados dos ficheiros dos Centros de Emprego em cada mês |
31-Dez-08 | 416.005 | | | | |
31-Jan-09 | 447.966 | 70.334 | 4.219 | 66.115 | 34.154 |
28-Fev-09 | 469.299 | 60.577 | 3.533 | 57.044 | 35.711 |
31-Mar-09 | 484.131 | 65.743 | 4.824 | 60.919 | 46.087 |
30-Ab-09 | 491.635 | 58.212 | 5.214 | 52.998 | 45.494 |
31-Mai-09 | 489.115 | 51.866 | 5.600 | 46.266 | 48.786 |
30-Jun-09 | 489.820 | 52.831 | 5.531 | 47.300 | 46.595 |
31-Jul-09 | 496.683 | 60.160 | 6.462 | 53.698 | 46.835 |
SOMA | | 419.723 | 35.383 | 384.340 | 303.662 |
FONTE : Informação mensal do mercado de trabalho – IEFP
Em 31
O NÚMERO DE DESEMPREGADOS ELIMINADOS DOS FICEIROS DOS CENTROS DE EMPREGO VARIA MUITO MENSALMENTE SEM SE CONHECER AS RAZÕES
O quadro seguinte, construído com dados divulgados pelo IEFP no período compreendido entre 31.12.2008 e 31.7.2009, permite calcular o numero de desempregados que foram eliminados mensalmente dos ficheiros dos Centros de Emprego naquele período.
QUADRO II – Variação dos desempregados que foram eliminados mensalmente dos Ficheiros dos Centros de Emprego no período Janeiro a Julho de 2009, e percentagem que representam em relação aos inscritos em cada mês
DATA | Nº de desempregados que se inscreveram em cada mês nos Centros de Emprego | Desempregados eliminados dos ficheiros dos Centros de Emprego em cada mês | % dos desempregados eliminados em cada mês em relação aos inscritos no mesmo mês |
31-Jan-2009 | 70.334 | 34.154 | 48,60% |
28-Fev-2009 | 60.577 | 35.711 | 59,00% |
31-Mar-2009 | 65.743 | 46.087 | 70,10% |
30-Ab-2009 | 58.212 | 45.494 | 78,20% |
31-Mai-2009 | 51.866 | 48.786 | 94,10% |
30-Jun-2009 | 52.831 | 46.595 | 88,20% |
31-Jul-2009 | 60.160 | 46.835 | 77,85% |
Media Jan/Fev | 65.456 | 34.933 | 53,37% |
Media Mar/Jul | 57.762 | 46.759 | 80,95% |
SOMA | 419.723 | 303.662 | 72,35% |
FONTE: Boletim Estatístico - Maio 2009 do MTSS; Informação mensal do mercado de emprego- Junho 2009-IEFP |
No período que vai de Janeiro a Julho de 2009, em média o numero de desempregados eliminados mensalmente dos ficheiros dos Centros de Emprego correspondeu a 72,35% do numero de desempregados que se inscreveram em cada mês nos Centros de Emprego. No entanto, se subdividirmos esse período em dois – o correspondente aos meses de Janeiro e Fevereiro, e o outro correspondente aos restantes meses (Março a Julho) – obtemos percentagens de eliminação muito diferentes, o que prova que a percentagem eliminada tem aumentado muito nos últimos meses. No período Janeiro a Março a taxa média de eliminação em cada mês foi de 53,37% do numero de desempregados inscritos em cada mês, enquanto no período de Março a Julho a taxa de eliminação dos ficheiros atingiu, em média, 80,95%. Portanto, com o agravamento do problema do desemprego a percentagem dos desempregados eliminados dos ficheiros dos Centros de Emprego aumentou significativamente. Foi também desta forma que o IEFP obteve os dados do desemprego registado que divulga mensalmente.
EMBORA O DESEMPREGO ESTEJA A AUMENTAR NO PAÍS, O IEFP CONSEGUIU DIMINUIR O NUMERO DE DESEMPREGADOS EM VÁRIOS CONCELHOS
Uma análise mais fina por concelhos torna ainda mais clara as anomalias que se estão a verificar a nível dos dados do desemprego registado divulgados pelo IEFP.. O quadro seguinte, com dados referentes a todos os concelhos do distrito de Lisboa, e relativos ao período Março/2009 a Junho/2009, permite fazer essa análise
QUADRO III – Variação do desemprego registado nos concelhos do distrito de Lisboa-Mar2009/Jun2009.
CONCELHOS | Mar-09 | Abril | Mai-09 | Jun-09 | Ab-Mar | Maio-Ab | Jun-Maio |
ALENQUER | 1.865 | 1.938 | 1.932 | 1.865 | 73 | -6 | -67 |
AMADORA | 8.554 | 8.802 | 8.630 | 8.587 | 248 | -172 | -43 |
ARRUDA DOS VINHOS | 333 | 344 | 351 | 351 | 11 | 7 | 0 |
AZAMBUJA | 1.001 | 1.008 | 1.019 | 931 | 7 | 11 | -88 |
CADAVAL | 495 | 532 | 606 | 615 | 37 | 74 | 9 |
CASCAIS | 6.946 | 7.262 | 7.648 | 7.647 | 316 | 386 | -1 |
LISBOA | 20.207 | 20.771 | 20.833 | 20.685 | 564 | 62 | -148 |
LOURES | 7.006 | 7.180 | 7.067 | 7.219 | 174 | -113 | 152 |
LOURINHÃ | 911 | 931 | 979 | 991 | 20 | 48 | 12 |
MAFRA | 2.279 | 2.355 | 2.346 | 2.340 | 76 | -9 | -6 |
ODIVELAS | 4.496 | 4.624 | 4.611 | 4.697 | 128 | -13 | 86 |
OEIRAS | 4.804 | 5.015 | 5.128 | 5.232 | 211 | 113 | 104 |
SINTRA | 15.703 | 16.406 | 16.281 | 16.401 | 703 | -125 | 120 |
SOBRAL MONTE AGRAÇO | 293 | 296 | 300 | 303 | 3 | 4 | 3 |
TORRES VEDRAS | 2.660 | 2.703 | 2.622 | 2.606 | 43 | -81 | -16 |
VILA FRANCA DE XIRA | 5.692 | 5.916 | 5.953 | 5.854 | 224 | 37 | -99 |
DISTRITO LISBOA -IEFP | 83.245 | 86.083 | 86.306 | 86.324 | 2.838 | 223 | 18 |
FONTE : Ministério do Trabalho e da Solidariedade Social (IEFP)
Entre Março de 2009 e Junho de 2009, o desemprego registado, de acordo com os dados divulgados pelo IEFP, teve a seguinte variação: entre Março e Abril aumentou em 2.838; entre Abril e Maio cresceu apenas em 223; e, entre Maio e Junho, o numero de desempregados subiu somente em 18. Se a análise for feita concelho a concelho, constata-se que, segundo o IEFP, o desemprego registado até diminuiu
COMPORTAMENTOS DIFERENTES DO INE E DO IEFP
O INE procura fazer crer que o desemprego em Portugal se limita ao desemprego oficial – 507,7 mil no 2º Trimestre de 2009- sendo nessa tarefa ajudado pela maioria dos media. A prová-lo está o facto de que deixou de divulgar a taxa de desemprego que incluía a totalidade dos desempregados. País. A justificação é que isso não é feito nos outros países da U.E.. Mas isso acaba por ser uma autêntica manipulação da realidade e da opinião pública pois os dados do desemprego oficial que divulga trimestralmente não reflectem a totalidade do desemprego, mesmo daquele que o INE consegue detectar. E isto apesar de, na mesma publicação que contém os dados oficiais do desemprego, também constarem os desempregados que não são considerados nos números oficiais – “os inactivos disponíveis” e o “subemprego visível” – assim como a srazões para não serem considerados. No entanto, se quisermos calcular um valor para o desemprego que se aproxime mais do numero efectivo de desempregados existentes no nosso País, isso é possível, pois os dados sobre os “inactivos disponíveis” e o “subemprego visível” também são divulgados trimestralmente pelo INE. Assim, no 2º Trimestre de 2009, o numero de desempregados que se aproximava mais do desemprego efectivo era, de acordo com os próprios dados do INE, de 635,2 mil, ou seja, mais 125,5 mil do que o numero oficial de desempregados.
Comportamento totalmente diferente tem o
Para que se fique com uma ideia do pouco que este governo tem feito para minorar a situação dos desempregados interessa acrescentar o seguinte: em Junho de 2009, segundo dados do Ministério do Trabalho e da Solidariedade Social estavam a recebem subsidio de desemprego apenas 223.441 desempregados, ou seja, menos de metade do numero oficial de desempregados (507,7 mil). Para além destes recebiam subsidio social de desemprego 101.602 desempregados , cujo valor médio era apenas de 337,39€/mês, menos que o limiar da pobreza.
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