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15/05/2009

Menos doações e mais pedidos nas instituições

As instituições de apoio social estão com dificuldades em dar resposta a todos os que lhes batem à porta a pedir ajuda. O desemprego e a crise estão a provocar um aumento do número de pedidos. E, nalguns casos, também baixam as doações.

O Norte - em especial a zona do Vale do Ave, Grande Porto e Aveiro - e os distritos de Lisboa e Setúbal são as regiões do país onde os pedidos de ajuda "têm crescido muito, sobretudo nos últimos meses", disse, ao JN, Isabel Jonet, presidente do Banco Alimentar contra a Fome, explicando que o desemprego e a desagregação das famílias, fruto de divórcios, são as principais causas do aumento dos pedidos de ajuda.

Até agora, as doações alimentares têm-se mantido e a última campanha de recolha do Banco Alimentar (BA), em Dezembro, resultou num aumento de 19% face ao ano anterior, o que tem permitido que os 13 bancos alimentares existentes no país continuem a apoiar mais de 1600 instituições e a contribuir para a alimentação de 245 mil pessoas.

Contudo, algumas dessas instituições estão a viver uma situação "difícil", assegura Isabel Jonet, não só pela crescente procura de ajuda mas também pela falta de pagamento das mensalidades por parte de algumas famílias. "As instituições vêem-se confrontadas com uma multiplicação de pedidos, muitas vezes desesperados, e não conseguem dar resposta", diz, apelando a que se dê atenção a estas famílias "para que não se excluam e engrossem o número de pobres".

Aos oito centros Porta Amiga da Assistência Médica Internacional (AMI) - espaços localizados nas principais cidades do país, onde se pode comer, tomar banho, ter acesso a roupa, apoio médico e social - chegam também cada vez mais pessoas a pedir ajuda. No ano passado foram 7513. Luísa Nemésio, secretária-geral, diz que há "um maior número de pessoas que trabalha, mas que não tem capacidade para fazer face a todas as suas necessidades e vem pedir apoio alimentar".

Tal como o BA, a AMI também é distribuidora dos excedentários da União Europeia, através do Programa Comunitário de Ajuda Alimentar a Carenciados (PCAAC). Em 2007, distribuíu 488 toneladas de alimentos a 5524 famílias, num total de 16531 pessoas. "Cada vez há mais casos, temos de ser muito rigorosos", diz Luísa Nemésio, explicando que "as assistentes sociais têm o drama de ter de dizer 'não" a pessoas que precisam, mas que não são as que mais precisam".

Para já, a AMI não sentiu uma quebra nos donativos e no último peditório nacional, em Outubro, "os valores até foram um bocadinho mais altos" face ao anterior. Contudo, a chave para fazer face às despesas - apenas 25% do orçamento da AMI vem do Estado ou de outros financiamentos internacionais - tem sido diversificar as fontes de rendimento e procurar outras formas de angariar fundos (ver caixa ao lado).

Ao refeitório do Coração da Cidade, no Porto - aberto das 9 às 20 horas - recorrem todos os dias cerca de 400 pessoas. La Salete Piedade, fundadora da instituição, diz que são cada vez mais os homens desempregados que vão comer ao refeitório "para não pesar no orçamento familiar". No fim da refeição, "pedem bolachas e iogurtes para levar aos filhos" para que não cheguem a casa de mãos vazias.

Nem sempre La Salete lhes pode satisfazer esse desejo. Nos últimos meses, tem sido cada vez mais difícil porque as empresas que lhe ofereciam alimentos também estão a reduzir. "Há uma diminuição substancial das ajudas. Certamente também estão a fazer contenção de despesas", diz, explicando que já por diversas vezes teve as prateleiras do "seu" supermercado social quase vazias.

Há uma outra realidade, denunciada por La Salete e confirmada pelo padre Jardim Moreira, presidente da Rede Europeia Anti-pobreza: pessoas que não têm dinheiro para pagar as contas da água, luz e gás e que, por isso, também não podem cozinhar em casa. "O dinheiro não dá para tudo", diz Jardim Moreira, confessando a sua preocupação de que estas dificuldades degenerem em conflitos e violência social.

J.N. - 15.05.09

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