Anabela Fino
Esta sexta-feira, 9, terá lugar mais uma «crucial» cimeira europeia. A exemplo de todas as outras cruciais cimeiras realizadas nos últimos tempos, também esta foi precedida por um encontro da dupla Merkozy, desta feita em Paris. Como já se tornou apanágio de todas as cruciais cimeiras precedidas de cruciais encontros do eixo franco-alemão, também desta vez a comunicação social se desdobrou em notícias e comentários sobre discrepâncias, concordâncias e outras ânsias que em tais ocasiões acometem a União Europeia em geral e os mercados em particular. Pelas televisões passaram e repassaram as imagens de frau Merkel com os seus coloridos casacos avançando em passo dinâmico em direcção ao seu homólogo herr Sarkozy para os cumprimentos da praxe, sempre sorridentes apesar das alegadas divergências, e de ambos, depois, bem mais circunspectos, anunciando ao mundo em conferência de imprensa conjunta a concordância total nas medidas que hão-de colocar a Europa nos eixos dos carris previamente traçados pela Alemanha.
Do encontro de Paris saiu, esta semana, a exigência de criação de uma «regra de ouro reforçada e harmonizada ao nível europeu» para que os tribunais constitucionais possam verificar se os orçamentos nacionais vão no sentido de um «regresso ao equilíbrio» das respectivas contas. A «novidade», manda a verdade que se diga, é assaz requentada: foi proposta a 16 de Agosto pela chanceler alemã, que nestas coisas de levar a água ao seu moinho não desarma. Mais, a senhora Merkel, assessorada por Sarkozy, pretende ainda que o Tribunal de Justiça Europeu supervisione os orçamentos nacionais e advoga a imposição automática de sanções para os estados relapsos. Com a sua conhecida candura germânica a chanceler antecipou-se às acusações dos que vêem em tais medidas uma intolerável perda de soberania. «O Tribunal de Justiça Europeu não poderá anular um orçamento nacional [mas deverá dizer se] as regras de ouro nacionais correspondem a um verdadeiro compromisso com o equilíbrio orçamental», afirmou. Se assim não for... bem, então avança a sanção automática, tipo cão de fila da disciplina germânica, perdão, da disciplina fiscal.
Traçado o plano a régua e esquadro – sem outras preocupações que não os interesses da grande Alemanha – resta montar o circo das cimeiras cruciais e convocar os restantes parceiros para assinarem de cruz o novo tratado. O facto de ninguém, à excepção da dupla Merkozy, parecer acreditar nas virtudes da «regra de ouro» concebida para ofuscar a soberania dos povos europeus, é praticamente irrelevante. Na corrida para o abismo, qual cavalgada das valquírias, os senhores da Europa esquecem coisas tão elementares como as que o antigo chanceler alemão Helmut Schmidt veio lembrar no último fim-de-semana: o nacionalismo alemão «causa sempre incómodo e preocupação nos vizinhos» e se a Alemanha «cair na tentação de assumir um papel de liderança na Europa» pode atiçar «os velhos conflitos entre a periferia e o centro da Europa».
Poderá ter sido coincidência, mas numa recente ida ao circo com as crianças – um tradicional circo, entenda-se –, o maior aplauso do público foi para o anúncio de que os artistas que executaram um número particularmente exigente de acrobacia «eram todos portugueses».
Do encontro de Paris saiu, esta semana, a exigência de criação de uma «regra de ouro reforçada e harmonizada ao nível europeu» para que os tribunais constitucionais possam verificar se os orçamentos nacionais vão no sentido de um «regresso ao equilíbrio» das respectivas contas. A «novidade», manda a verdade que se diga, é assaz requentada: foi proposta a 16 de Agosto pela chanceler alemã, que nestas coisas de levar a água ao seu moinho não desarma. Mais, a senhora Merkel, assessorada por Sarkozy, pretende ainda que o Tribunal de Justiça Europeu supervisione os orçamentos nacionais e advoga a imposição automática de sanções para os estados relapsos. Com a sua conhecida candura germânica a chanceler antecipou-se às acusações dos que vêem em tais medidas uma intolerável perda de soberania. «O Tribunal de Justiça Europeu não poderá anular um orçamento nacional [mas deverá dizer se] as regras de ouro nacionais correspondem a um verdadeiro compromisso com o equilíbrio orçamental», afirmou. Se assim não for... bem, então avança a sanção automática, tipo cão de fila da disciplina germânica, perdão, da disciplina fiscal.
Traçado o plano a régua e esquadro – sem outras preocupações que não os interesses da grande Alemanha – resta montar o circo das cimeiras cruciais e convocar os restantes parceiros para assinarem de cruz o novo tratado. O facto de ninguém, à excepção da dupla Merkozy, parecer acreditar nas virtudes da «regra de ouro» concebida para ofuscar a soberania dos povos europeus, é praticamente irrelevante. Na corrida para o abismo, qual cavalgada das valquírias, os senhores da Europa esquecem coisas tão elementares como as que o antigo chanceler alemão Helmut Schmidt veio lembrar no último fim-de-semana: o nacionalismo alemão «causa sempre incómodo e preocupação nos vizinhos» e se a Alemanha «cair na tentação de assumir um papel de liderança na Europa» pode atiçar «os velhos conflitos entre a periferia e o centro da Europa».
Poderá ter sido coincidência, mas numa recente ida ao circo com as crianças – um tradicional circo, entenda-se –, o maior aplauso do público foi para o anúncio de que os artistas que executaram um número particularmente exigente de acrobacia «eram todos portugueses».
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