À procura de textos e pretextos, e dos seus contextos.

02/03/2011

Iguais

João Paulo Guerra   

O tratamento está a matar o doente. Mas o médico insiste na receita e propõe-se mesmo reforçar a dosagem.
O doente é o País e a receita é a austeridade para a maioria, a que consome por estrita necessidade e assim deita carvão na máquina da economia. Por mais teoria com que se argumente não há volta a dar a esta realidade: as receitas destinadas a cortar cerce o consumo, até das mais elementares e vitais necessidades, arruínam a economia e assim, em última instância, agravam os índices da própria crise financeira.
Para além disso, essas políticas são absolutamente injustas: cortam à classe média e às classes baixas, fazem disparar a pobreza, arrasam as perspectivas de trabalho, arruínam o futuro da juventude, condenando-a a uma vida sem horizonte, gasta a angariar o pão em cada dia. Estas políticas fazem os povos pobres e infelizes, os jovens descrentes, e cada governante responsável pela infelicidade do seu povo devia ter de prestar contas perante a História. Ou então devia cair automaticamente do cadeirão do poder, em que se empoleirou mentindo ao povo com promessas eleitorais demagógicas para iludir as opções da livre escolha em democracia.
Lembro-me com frequência de palavras de D. Januário Torgal Ferreira, na apresentação do livro com a tese de doutoramento de Manuel Carvalho da Silva. Disse o prelado que cada vez que vê um sem-abrigo a dormir na rua, que vê um pobre sem remédio para a sua pobreza, que vê um desesperado perante uma vida de agruras, pensa que o governo - seja ele qual for - devia cair imediatamente por proporcionar tais infelicidades ao povo.
O pior é que a democracia, pela qual tantos lutaram, se transformou nesta perversidade: sai um e entra um igual, numa alternância em que só muda, se mudar, o alfaiate do chefe da banda.

http://economico.sapo.pt/noticias/iguais_112373.html

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