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29/07/2010

Cameron entrega serviços à «sociedade»

O primeiro-ministro britânico, o conservador David Cameron, encontrou um novo expediente para desresponsabilizar o Estado e prosseguir a destruição de serviços públicos, ao qual chamou pomposamente «big society» (sociedade grande).

A ideia, que pretende contrapor a treze anos de governação trabalhista cuja prática caracteriza como «big government», resume-se a remeter para associações locais a responsabilidade pela gestão de serviços públicos como os correios, bibliotecas ou até transportes colectivos.

Num discurso proferido na semana passada em Liverpool, Cameron declarou que o modelo até agora seguido já não funciona. Isto porque, explicou, a Grã Bretanha tem o «maior défice público do G20» e «desde há uma década que os maiores problemas sociais se agravaram». Deste modo concluiu: «Precisamos de algo diferente».

E logo anunciou quatro experiências piloto, que incluem duas regiões rurais, a cidade de Liverpool e o subúrbio Sul de Londres, para pôr em prática iniciativas locais «inovadoras».

Para já trata-se de projectos «modestos» que não são mais do que «um ponto de partida», esclareceu Cameron. Assim, o governo propõe-se trabalhar com diferentes associações, uma das quais se dispõe a fornecer voluntários para alargar o horário de funcionamento do museu local, outra pretende acelerar a velocidade da ligação à Internet, outra ainda encarregar-se da gestão de um bar (pub) e uma quarta exercer controlo sobre as despesas municipais.

Embora afirmando que pretende dar mais poder aos cidadãos, salta à vista que o verdadeiro objectivo de Cameron é reduzir a despesa: «O governo tenta assim justificar o seu programa de cortes orçamentais. Fala na dinamização da sociedade civil para disfarçar o abandono dos serviços públicos», observou Ed Miliband, um dos candidatos à sucessão de Gordon Brown na liderança dos trabalhistas.

Também o sindicato dos funcionários públicos Unison se manifestou contra semelhante projecto, sublinhando que os serviços públicos não devem depender da presença incerta de voluntários.

E mesmo o conselho nacional das organizações de voluntários já manifestou as suas reservas, mostrando-se alarmado com a redução dos financiamentos públicos às associações: «Como poderão desempenhar um papel ainda mais importante na sociedade se elas têm cada vez menos recursos para o fazer?».

http://www.avante.pt/pt/1913/europa/109845/

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