Alguns comentários sobre a decisão do Governo, assumida na quinta-feira passada, através de decreto-lei, de alargar os horários de abertura das grandes superfícies às tardes de domingos e feriados:
1. Forma – O processo foi feito a golpe, com aprovação de surpresa, em Conselho de Ministros, sem estudos prévios conhecidos relativos às vantagens e desvantagens, sem auscultação nem debate com os parceiros sociais;
2. Oportunidade – A pior porque vai ter impactos não anunciados, não se sabe se estudados, favorecendo umas empresas e prejudicando outras, – vejam-se informações publicadas, designadamente, dos gabinetes de Research – da banca, que anunciam aumentos de vendas, por exemplo, da Sonae, em 100 milhões(3/5%), com consequente valorização bolsista. É caso para perguntar quem vai perder vendas e vai sofrer a desvalorização ???
3. Consequências:
3.1. Aumento do emprego nas beneficiadas - A APED anuncia 5 mil novos empregos até ao final do ano; O Ministro da Economia, em Guimarães, reduz a previsão para 2 mil, admitindo muitos precários. Nos últimos meses as suas empresas, descartaram milhares de trabalhadores precários. Daqui até ao Natal vão ter de aumentar o volume de emprego, com precários, para responder às necessidades funcionais neste período em que aumentam as vendas, que vão contabilizar para justificar a “bondade” da decisão do Governo.
3.2. Redução do emprego - Haverá uma transferência de vendas, dos modelos que estavam abertos para os modelos que fechavam nas tardes de domingo e feriado, que são muito mais atractivos e isso vai repercutir-se numa quebra de vendas nalguns formatos, incluindo nos formatos de supermercado até 2 mil metros quadrados. Aí, por certo haverá um descartar de trabalhadores e um acentuar das dificuldades de na conjuntura já são muitas e visíveis nos indicadores de insolvências. Qual o volume não se sabe, mas sabe-se que haverá consequências, algumas até de ordem psicológica com efeitos no emprego.
3.3. Económicas - Sabe-se que grande parte dos produtos comercializados na grande distribuição são importados, incluindo alguns que por vezes aparecem como nacionais, – exemplo azeite, carnes (vacas importadas vivas durante anos e anos da Irlanda e Reino Unido) – que aumentarão na medida em que se concentre mais a distribuição nestas empresas e esta medida manifestamente favorece a concentração nos grandes hipermercados.
Tudo isto incentiva o consumo e o endividamento, todas estas grandes empresas ou já funcionam com cartões e outros créditos fáceis ao consumo, ou estão em condições de avançar com eles, para usar mais e alargar a "fidelidade" dos consumidores.
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