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02/03/2010

Quase dez por cento dos portugueses admitem dificuldades em comprar fármacos

A grande maioria dos médicos (92,5 por cento) não pergunta aos doentes se têm dificuldades em comprar os medicamentos que lhes prescrevem, referem dados de um estudo sobre o consumo de genéricos realizado pelo Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge (INSA), em Lisboa. Foram 8,4 por cento os que responderam não poder comprar medicamentos prescritos por não ter dinheiro suficiente.

Os doentes que se sentem mais limitados na aquisição de fármacos são os mais idosos, os menos instruídos, os sem ocupação e os doentes crónicos. É no Alentejo e no Algarve que há mais pessoas a admitir dificuldades e é no Norte e no Alentejo que há mais clínicos a querer saber de eventuais problemas financeiros dos doentes na compra dos fármacos, referem dados do estudo que inquiriu, em 2008, 752 residentes em Portugal Continental. Os autores do estudo ressalvam que apenas foram inquiridas pessoas com telefone fixo, ficando, portanto, de fora os que não estão nessa situação.

A esmagadora maioria das pessoas diz saber o que é um genérico (95 por cento) e 78 por cento referiu já ter sido medicada com este tipo de fármaco, que se define por ter a mesma substância activa, dosagem e indicação que o remédio de marca seu equivalente - algo que aconteceu, sobretudo, por iniciativa do médico (77,7 por cento). Segundo o estudo, os genéricos são mais baratos 35 por cento (em alguns casos, 20 por cento) do que os medicamentos de marca.

Os que se manteriam fiéis ao fármaco de marca independentemente da poupança que fariam em tomar um genérico equivalente ficam-se pelos 12 por cento. O grosso dos inquiridos (67,8 por cento) mudaria para um genérico se a poupança fosse inferior a dez euros e os que mudariam apenas se poupassem mais de dez euros na factura descem para 20 por cento.

Apesar de estes indicadores revelarem confiança nos genéricos e no seu potencial de poupança, muitos dos inquiridos mostram-se pouco activos quando se trata de saber, por iniciativa própria, se há um genérico de substituição. Não chegam a 30 por cento os que ousam perguntá-lo ao médico. Os que fazem a pergunta na farmácia são um pouco mais (32,3 por cento) mas a decisão pertence, em última análise, ao médico, que, no preenchimento da receita, pode proibir a substituição na farmácia.

No que toca à sugestão de substituição, os farmacêuticos fazem-no muito mais do que os médicos - 20,4 por cento contra 15,1 por cento do total.

A principal fonte de informação sobre genéricos são as farmácias, sobretudo para as mulheres e os menos instruídos. A Internet é mais usada pelos mais novos, profissionais activos e com mais instrução. Com o médico, informam-se mais os doentes crónicos.

Os autores do estudo concluem que a expansão, em Portugal, do mercado dos genéricos - que representava, em 2009, uma quota de mercado de embalagens de 15,5 por cento - deve passar mais pelo lado da procura, "incitando médicos a prescrever, farmacêuticos a dispensar e utentes a usar".

http://www.publico.pt/Sociedade/medicos-nao-perguntam-aos-doentes-se-tem-dinheiro-para-comprar-medicamentos_1425054

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