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10/03/2010

Carvalho da Silva diz que presidente da TAP tem mentalidade do século XIX

O administrador brasileiro Fernando Pinto, presidente da TAP, olha para as greves como "algo do passado". Em resposta, Carvalho da Silva viu nesta declaração a voz de um gestor com "mentalidade do século XIX". O secretário-geral da CGTP diz ainda que este recado aos pilotos "é um apelo quase indirecto à realização de uma greve".

O presidente da TAP veio hoje deixar um alerta aos pilotos que durante a tarde se reúnem em assembleia-geral para analisar as propostas de aumento da administração da transportadora aérea. Perante a possibilidade de enfrentar nova paralisação de voos, Fernando Pinto considerou as greves "algo do século passado" e recomendou aos pilotos "o bom-senso" próprio da profissão.

"Eu considero que greves é algo do século passado, ou do século anterior. Não é inteligente, porque retira completamente a capacidade da empresa de melhoria não só do salário como de competitividade", acrescentou Fernando Pinto numa entrevista à Agência Lusa, lembrando que a TAP "é uma empresa em dificuldades, cujo capital próprio é negativo".

A propósito destas declarações acerca do direito à greve que é exercido pelos trabalhadores e garantido pela Constituição como um dos direitos fundamentais, o secretário-geral da CGTP atribuiu essas considerações a uma "mentalidade do século XIX".

Vendo esta atitude como uma provocação aos pilotos, Carvalho da Silva considerou "inquestionavelmente retrógrada" a declaração de Fernando Pinto.
"Não percebo o que pode estar por trás desta afirmação, que é um apelo quase indirecto à realização de uma greve", apontou.

O líder da CGTP disse ter pena que o principal administrador da transportadora aérea nacional pertença a um grupo de gestores com essa "mentalidade do século dezanove" anterior ainda à existência dos direitos colectivos dos trabalhadores: "É o neoliberalismo na sua afirmação plena".

Pilotos analisam proposta da Administração
Os pilotos da TAP vão esta tarde reunir-se em assembleia-geral para tomar uma decisão sobre a proposta da empresa no que respeita a aumentos salariais. Face à possibilidade de agendamento de nova greve, o presidente da transportadora aérea apela ao bom-senso dos pilotos: "Sabemos como se processa uma assembleia-geral e muitas vezes perde-se o controlo. Eu alerto que é extremamente perigoso para a empresa. O momento não é para esse tipo de movimentação".

"É uma empresa em recuperação", alertou o presidente da TAP.

Com os acordos para aumentos salariais de 1,8 por cento fechados em relação a sete sindicatos de trabalhadores da TAP (Transportadora Aérea Nacional), o sindicato dos pilotos é agora a pedra no sapato de Fernando Pinto, que numa derradeira tentativa jogou com o acordo da empresa e colocou em cima da mesa a oferta de uma percentagem adicional indexada a ganhos de produtividade.

"Em Novembro os pilotos apresentaram um valor muito mais alto, que não se podia de forma nenhuma pensar em considerar. A nossa proposta foi dizer que os valores eram impossíveis sequer de conversar, mas que existia a possibilidade de discutir o acordo de empresa de forma a ter ganhos de eficiência sem serem prejudiciais para os pilotos", explicou Fernando Pinto, manifestando a crença de que esta equação poderia ainda "ajustar e melhorar a eficiência da empresa e até a vida do próprio tripulante".

Num primeiro momento, o sindicato dos pilotos rejeitou a proposta da Administração e respondeu com uma greve, acabando por ceder num segundo momento.

Lembrando que perante o sindicato a sua equipa defendeu que "responsavelmente não poderíamos fazer de outra forma num momento de crise com este", Fernando Pinto explicou que ficou então aceite pelos pilotos que "os ganhos que tivéssemos com isso, reais e mensuráveis, a TAP iria dividir - parte seria incorporada no salário e outra ficaria para a empresa - (de acordo com) a proposta em Novembro".

Neste momento, e depois de se chegar a um consenso sobre os pontos do acordo da empresa a modificar, o impasse que poderá desencadear nova greve dos pilotos tem a ver com esta questão: "Quais seriam os impactos na operação da empresa em termos de ganhos".

Pilotos querem travar erosão salarial
Fernando Pinto explicou à Lusa que deu instruções "para que o cálculo desse o máximo no beneficio às duas partes: ganhos reais que depois dividiríamos pelos dois. O cálculo a que chegámos foi metade ou menos do apresentado pelos sindicatos", surgindo então a possibilidade de fazer acrescer a estes ganhos aumentos salariais de 1,8 por cento, condicionados a uma autorização do Ministério das Finanças.

O Sindicato dos Pilotos da Aviação Civil (SPAC) já admitiu que esta proposta "foi objecto de consenso preliminar prévio", lamentando contudo que a resposta posterior da Administração tenha saído contrária às expectativas dos pilotos "ao pretender manter a erosão" dos salários.

Nesse sentido, o SPAC parte para a reunião com um ponto firme na agenda: "Os pilotos da TAP não podem e não vão continuar a contribuir expressiva e decisivamente para a formação de lucros da unidade de negócio do transporte aéreo que são depois consumidos pelas opções estratégicas desta administração".

http://tv1.rtp.pt/noticias/index.php?t=Fernando-Pinto-tem-uma-mentalidade-do-seculo-XIX.rtp&article=326530&visual=3&layout=10&tm=6

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