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12/03/2010

Desemprego faz disparar sobreendividados

Em dois meses, a Deco abriu 500 processos, um quinto dos pedidos entrados em 2009. Desemprego explica boa parte

Nos primeiros dois meses do ano, 502 famílias sobreendividadas pediram ajuda à Deco - Associação de Defesa do Consumidor - para conseguirem resolver as suas dívidas. Este número corresponde a quase um quinto do total de processos de sobreendividamento iniciados por aquela entidade ao longo do ano passado: 2812.

Só em Fevereiro, foram 275 as famílias em dificuldades que pediram auxílio, o dobro do número registado em igual mês de 2008 e mais 8% que em Fevereiro de 2009, de acordo com os últimos dados do boletim estatístico do Gabinete de Apoio ao Sobreendividado (GAS) da Deco, a que o DN teve acesso.

Um drama social que as associações de defesa do consumidor, espalhadas por todo o mundo e agregadas na Consumer International, vão assinalar na próxima segunda-feira, Dia Internacional do Consumidor. Este ano, o tema central são os serviços financeiros e a crise económica, que está a levar muitas famílias a enfrentarem dificuldades em pagarem os seus créditos.

Os números para Portugal, compilados pela Deco, retratam uma realidade alarmante, com tendência a agravar-se ao longo do corrente ano, em resultado do aumento do desemprego. "Este crescimento não nos surpreende. Deve-se sobretudo ao desemprego e à instabilidade profissional", refere Natália Nunes, técnica desta a associação e responsável pelos GAS.

Não é, de facto, apenas o aumento do desemprego que está a contribuir para a escalada do sobreendividamento. A deterioração das condições laborais é uma das causas que têm vindo a ganhar importância entre os vários tipos de dificuldades. "A instabilidade profissional, como a redução de horas extraordinárias e os salários em atraso, é uma das razões que mais tem crescido", refere Natália Nunes.

Na análise aos pe-didos de auxílio de Fevereiro, verifica-se que o desemprego motivou 36,4% dos processos, surgindo em segundo lugar as situações de doença, que geraram 19,5% dos pedidos de auxílio (ver gráficos na página ao lado). Com 17,5% do total das causas que levaram ao sobreendividamento aparece a deterioração das condições laborais, que já ultrapassa motivos mais comuns para a entrada em dificuldades, como era antigamente o divórcio ou separação. Esta causa justificou 8,7% dos processos iniciados em Fevereiro. Recorde-se que o desemprego, a doença e o divórcio (conhecidos pelos três D) eram os motivos tradicionais para explicar o incumprimento excessivo de muitas famílias. O agravamento do custo do crédito já pesa menos (5,5%), face à queda das taxas de juro.

Na análise da Deco aos casos que chegam aos seus gabinetes, concluiu-se também que as famílias sobreendividadas estão a pagar, em média, 5,4 créditos.

No entanto, aos gabinetes desta associação chegam casos de pessoas - 10,6% do total - que têm mais de dez empréstimos em pagamento. A maioria (38,5%) tem entre quatro e sete créditos em curso, enquanto 36,6% pagam de um a três empréstimos.

Lisboa é a região do País onde se concentra o maior número de sobreendividados, no que respeita às famílias que decidem recorrer à Deco, com 104 processos em Fevereiro.

No entanto, foi na região norte que se registou o maior crescimento homólogo, passando de 73 casos em Fevereiro do ano passado para 94 este ano. A distribuição do tipo de causas que levam ao sobreendividamento é homogénea, com o desemprego a liderar em quase todas as regiões (à excepção de Santarém), justificando 40% dos processos em Lisboa e na região norte.

Outro dado significativo nesta análise mensal tem que ver com os contactos chegados às diversas delegações da Deco: foram mais de mil, mas apenas 275 contactos resultaram em processo, demonstrando que existem muitas mais famílias em dificuldades, mas que não avançam com pedido de auxílio.

http://dn.sapo.pt/bolsa/interior.aspx?content_id=1516839

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